segunda-feira, novembro 08, 2010

Beleza natural

Olhava fixamente para aquela fotografia e certamente despertava, entre os que o rodeavam, a impressão de que era um profundo conhecedor da arte de fotografar. Certamente deduziam que estivera magnetizado pela beleza da imagem ou que praticara algum exercício de abstração que lhe revelaria algo escondido além do papel. Mas eram suposições equivocadas.

Sempre considerou as intervenções humanas no aperfeiçoamento estético uma respeitável e muitas vezes compreensível atitude. Mas admitia a si mesmo uma irritação profunda quando tais intervenções – geralmente com o propósito de transformar o bonito em deslumbrante – extraíam do que é naturalmente belo a verdadeira beleza.

Não percebem, os que se valem de tais recursos, o desserviço que prestam à beleza natural? Era isso o que permanecia na sua mente enquanto mantinha os olhos naquela fotografia. Indagava se os manipuladores do registro fotográfico tinham a mais vaga idéia do empobrecimento que aplicavam às suas próprias obras quando do uso de filtros e mecanismos diversos que conferiam mais cores, contrastes, brilho, profundidade e o que mais fosse aos retratos do mundo.

Tais recursos, insistia para si próprio, aprimoram ou criam uma beleza frágil, porque efêmera, e superficial, porque falsa. Dão ao céu um azul-plástico inexistente. Distorcem e confundem os ângulos das imagens ao ponto de deformá-las, de alterar-lhes a essência.

Também repetia a si mesmo que fotografia e pintura, embora igualmente nobres e necessárias, diferem uma da outra geralmente nas intenções. Diferenças às vezes sutis, às vezes radicais. Embora a pintura possa até desejar retratar a realidade, faz um apelo muito mais dramático à imaginação, à abstração, ao subjetivo. Não que a fotografia não o faça, mas parte de pressupostos diferentes. A fotografia permite abstrações a partir da dureza da realidade. A pintura permite a percepção da realidade pela sutileza da abstração.

A beleza verdadeira não precisa de retoques. Não os merece. Traz em si algo que é inalterável, especialmente por não ser visto apenas com olhos. 

Um comentário:

Sunflower disse...

Mais do que nunca, o mundo anda cego do que o essencial é invisivel aos olhos .