terça-feira, julho 20, 2010

O dia em que morri



Esta noite sonhei que morri. Um acidente de carro tirava minha vida. Não houve dor nem sofrimento imediato. Silêncio. Silêncio. Uma vibração intensa. Mais silêncio. Depois, apenas uma miscelânea inicial de sensações, que aos poucos foram se tornando menos difusas, até darem-me a certeza da morte.

A sensação que adveio daí foi igualmente impressionante, dada a carga de realidade que tomou conta de mim. Já tive diversos sonhos cujos enredos exerceram poder tão grande sobre meus pontos sensoriais que senti fisicamente cada desdobramento que se processava em minha mente irrequieta. Mas o desta noite foi além. Mexeu com muito mais do que apenas o físico. Ou o mental.

Vi de longe meus amigos e minha família receberem a notícia do meu fim. Vi algumas homenagens serem feitas em meu nome. Passei a sofrer com o sofrimento dos que sinceramente sentiram o pesar da minha morte. Mas senti mais ainda o desespero de não conseguir me comunicar com eles e dizer que estava bem. Morto, mas bem.

Observei minha mãe, afastada de meus irmãos e de toda família num evento que certamente era meu funeral, para sentir (como certamente só as mães devem sentir) a dor que a minha partida lhe causara. Aquilo matou-me pela segunda vez. Concentrei-me. Não poderia deixar a vida sem falar com ela. E consegui. Ou quase consegui. Nem uma palavra consegui pronunciar. Mas o olhar trocado e a sensação do abraço apertado (ainda que de adeus) foi radicalmente revigorante.

Lamentei por ter de me afastar tão subitamente de tudo aquilo de que gostava e especialmente daquilo que estaria por vir. Lamentei profundamente não ter tido a chance de dizer a todos os que amo que os amo de verdade. Sempre os amei, incondicionalmente. Amor puro. Absoluto. Senti inveja dos ficaram e medo por não saber aonde ir. Mas senti novamente o calor daquele abraço. E pensei em todos os que amo e vi que os amo ainda mais. E enfim amanheceu.

Um comentário:

Ana Laura disse...

Eita, Wagner, espero que esteja aproveitando cada momento acordado para declarar seu amor aos que ainda o rodeiam...