quarta-feira, novembro 15, 2006

Quanto tempo dura o tempo?

Quando criança, achamos, no fundo, que os velhos já nasceram velhos e que nós, no máximo, seremos adultos jovens, fortes e imbatíveis. Na verdade, super-heróis. Mais adiante, quando a vida de fato nos faz sentindo (ou quando perde definitivamente seu sentido), achamos que conseguiremos driblar o tempo e permaneceremos eternamente no gozo da juventude. Nessa fase, a velhice e a passagem impiedosa do tempo nos são idéias remotas, embaçadas, estranhas. Praticamente abstrações. Abusamos da ilusória noção de sobra de tempo e lançamos aos confins de um futuro inatingível realizações que estupidamente adiamos.

O tempo me fascina na mesma proporção em que me atemoriza. Não o tempo em si, esse conjunto de frações que ao longo dos séculos nos localiza entre o que fomos, o que somos e o que seremos. É a passagem dele que às vezes (muitas vezes) me dá calafrios. Quanto mais você pensa no assunto, mas o tempo lhe escapa às mãos. Cria-se, com o tempo, uma relação quase obsessiva.

Se você tenta aproveitá-lo ao máximo, cai em uma inexorável fadiga — que o faz lamentar certa ausência de ócio. Se se entrega às delícias da preguiça, vai chorar na velhice pelo tempo escorrido entre dedos quando a juventude lhe permitia desfrutá-lo. E, por mais que você queira acreditar, não existe meio termo. Para ser ainda mais cruel: estamos sempre perdendo tempo. E quando nos damos conta disso, já não há mais tempo suficiente para remediar.

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