quinta-feira, novembro 30, 2006

O Monstro do Varal

Passei grande parte da vida ouvindo retumbantes argumentos contra o ato de casar. Inclua, nesse ato, as chamadas relações estáveis, uniões não formais, “amancebamentos” etc. Devo confessar que, também durante grande parte da vida, concordei com os argumentos então apresentados. O repertório de irrefutáveis lamentações daqueles que haviam juntado as escovas de dentes construía uma inabalável barreira de rejeição, de minha parte, em dividir um cafofo com alguém.

Mas, como até uva passa (sempre detestei esse trocadilho, mas só de sacanagem vou usá-lo), as minhas percepções também mudaram – inclusive aquelas sobre casamento. É evidente que não é a coisa mais perfeita e harmônica do mundo. Mas pode ser a mais engraçada. Na verdade, é A mais engraçada.

Quem ainda está solteiro não sabe, por exemplo, que os prováveis desentendimentos por causa da toalha molhada largada sobre a cama ou devido ao tubo de pasta de dente espremido pelo meio não representam uma milionésima fração dos acontecimentos banais que, em uma relação a dois, podem se transformar em hecatombes maritais.

Vocês sabiam, por exemplo, que existem técnicas para estender roupas no varal? Se você, que está lendo, for mulher, certamente não verá novidade alguma nisso. Mas para nós, compostos por cromossomos X e Y, isso é tão ou mais surpreendente que os segredos de Fátima.

Hoje pela manhã, por exemplo, depois de ter perdido a hora por causa de um despertador incompetente, levei um senhor puxão de orelhas da Vivi. Sim, sem dó nem piedade, às 9h30 da madrugada, a malvada me chamou à área de serviço e me deu um sermão colossal.

Para que vocês entendam o enredo. Marido moderno como sou, não admito a postura de “ajudar” a mulher com as tarefas do lar. Macho que é macho, hoje em dia, DIVIDE com elas o rojão que a manutenção da ordem doméstica requer. Por isso, na quarta-feira à noite, depois que Esmeralda (nossa máquina de lavar roupa) acabou sua labuta, dirigi-me à mesma e dela tirei as camisas (minhas e da Vivi) que lá dentro outrora chacoalharam.

Sacolejei-as ao ar antes de levá-las às cordas - outro indispensável ensinamento angariado depois de consolidarmos nossa união estável. De acordo com a mestra Vivi, isso serve para que, na hora de passar, a roupa desamasse com maior facilidade e produza um resultado melhor... Juro que nem questiono. Eu, hein?

Bem, depois das sacolejadas, peguei os pregadores e mandei ver, como sempre fiz. Estendi peça por peça, com muito pensamento positivo e amor no coração. Depois disso, seria só esperar pelo dia seguinte para recolhê-las, sequinhas e perfumadas.

Huuum, mas, aí, deu-se a refrega. “Pô, Waguinho! Quantas vezes eu vou ter de falar que não é assim que se estende esse tipo de roupa?!!”, esbravejou comigo a Pimentinha. Teve mais: “se quer estragar as roupas, que estrague as suas, mas preserve as minhas!”

“Meu Deus, o que terei feito”, matutei eu, sem ousar defender-me de tão cruéis ataques. Pela veemência com que ela me colocara contra a parede, tive certeza de que meu erro fora tão grave que teria sido capaz de arruinar o que sobra da camada de ozônio, secar as reservas de água do planeta ou deixar pelados os últimos exemplares do mico-leão-dourado.

Uma vozinha fraca e sem ânimo saiu, depois de muito tempo, lá de dentro do meu eu. “Mas, meu amor, o que está errado?”, indaguei, inocentemente.
“Como 'o que está errado?'”, irritou-se a dona-do-lar. “Já não te falei que roupas de malha não podem ser estendidas pelas pontas porque vão ficar tortas?”, explicou, certamente pela última vez na vida, minha impaciente coisinha linda.

Raaapaaaaaz, vocês pensam que a tromba dela se desfez logo? Que nada. Ficou calada no carro até eu deixá-la no trabalho. O beijo de despedida pareceu uma alfinetada em minhas bochechas – já doloridas de tantas tentativas de fazê-la reconciliar-se com “O Monstro do Varal” (ou seja, eu).
Mas, enfim, na hora do almoço, toda a crise fora desfeita, e a paz voltou a reinar. Mas não estou de todo calmo. Enquanto redijo estas palavras, Esmeralda está lá, funcionando a mil, só me esperando para retirar e estender mais roupas no varal. Tomara que dessa vez dê certo...

2 comentários:

Ana Laura disse...

Inclui-se aí: ao acabar de sujar a louça, se não for lavá-la imediatamente, molhe pratos, talheres e copos com água, para não secar a sujeira e demorar mais na hora de lavar. Ah, e se for sopa ou iogurte num pote, encha até a borda e não pela metade. Outra: faca suja de manteiga, requeijão ou geléia? Retire o excesso com guardanapo antes de jogar a faca na pia. Nada mais nojento que lavar facas espalhando manteiga na esponja, que por sua vez irá espalhá-la pelo restante da louça. Último: as camisas secam melhor se, depois da conhecida sacudidela, vc pendurá-la no cabide. Desamassa mais fácil e facilita na hora de passar. São só dicas para um casamento mais harmonioso...
Bjos

Wagner Vasconcelos disse...

Deus me livre, Lalá! Tomara que a Vivi não leia sua mensagem...

Beijão!