segunda-feira, junho 27, 2005

Um Fime (Mal) Falado

Acredito que fazer cinema é, de certa forma, parecido com cozinhar. Basta um pequeno deslize em relação a um dos ingredientes para que aquilo que planejou-se ser um retumbante sucesso se transforme num estrondoso fracasso. Testemunhei ontem a um desses fracassos — não gastronômico, mas cinematográfico.
Antes de mais nada, deixe-me alertá-lo: se você não quiser saber qual o final do filme sobre o qual vou falar, vá parando de ler por aqui.
Bem, se você já está nesta linha ou é porque não se importa de saber o final de um filme mesmo antes de assisti-lo ou é porque foi vencido pela curiosidade. Seja lá qual tenha sido o seu caso, eu aconselho: NÃO assista a “Um Filme Falado”, um drama dirigido pelo português Manoel de Oliveira, e que, mesmo tendo no elenco nomes de peso (como Catherine Deneuve, John Malkovich, Irene Papas e a gatinha Leonor Silveira), não passa de uma patetada de cabo a rabo. Não sei ao certo se estou ficando rabugento ou se a minha paciência é que vem sendo desafiada com mais freqüência, mas não há elogios a fazer à referida película.
Na verdade, eu e a Vivi iríamos a assistir a outro filme, mas, para fazermos companhia à nossa amiga Jane, resolvemos juntarmo-nos a ela na sala 3 do cinema da Academia de Tênis. Que decepção!
Em resumo, o filme narra uma viagem de navio pelo Mediterrâneo na qual uma jovem mãe (Leonor Silveira), professora de História na Universidade de Lisboa, vai explicando à sua filha de oito anos todos os momentos históricos por que passaram as cidades que devem visitar até chegar a Bombaim, onde lhes espera o pai da menininha, marido da professorinha.
Que me perdoem os que gostaram do filme, mas, fora as belas imagens das terras abençoadas pelo Mediterrâneo, nada presta nele. Mais da metade da história é a tal da professorinha tirando as dúvidas da menina. “Mãe, o que é isso?” “Mãe, quem foi fulano?”, “Mãe, o que quer dizer aquilo?”, são algumas das indagações da chatinha. Isso não é o pior do filme. Pelo contrário. Chega a ser didático. Só que algo muito infantil pra quem sai de casa para ir ao cinema às 21h40 de um domingo, né? Até esse momento, nada de Irene Papas, Catherine Deneuve e Malkovich. E você começa a achar que foi enganado. Que os nomes deles eram apenas uma estratégia de marketing para atrair o público. Só lá pras tantas é que eles aparecem. Mesmo assim, você não consegue entender que relação tem a presença deles com a viagem de mãe e filha.
Deneuve, bonitona como sempre, interpreta o velho clichê executiva-bem-sucedida-solteirona-fria-e-que-só-deve-querer-saber-de-homens-pra-tirar-a-poeira-do-abajour (espero que entendam a metáfora). Malkovich é o comandante do navio, e não decide se é imbecil ou se é galanteador. Na minha opinião, é a primeira alternativa. Irene Papas (muito mais “papas” do que Irene) é uma cantora grega melancólica e solitária. A italiana Stefania Sandrelli faz uma ex-modelo, ex-casada, ex-famosa e meio excêntrica.
Os quatro só aparecem ao redor de uma mesa do restaurante do navio em que viajam todos (inclusive a mãe e a menininha debiloide). Passam o tempo todo conversando sobre os mais variados assuntos e cada um falando em sua língua natal.
Malkovich dá umas cantadinhas baratas em Deneuve. Tenta, em vão, agradar a professorinha (com o objetivo óbvio de comê-la) e se arrisca a pronunciar algumas frases em português. Sacrilégio!! Deve ser pior do que eu tentando falar tailandês. (o pior é que o veado diz que aprendeu português morando no Brasil!!!)
Mais tarde, finalmente, a professorinha e sua “malinha” se juntam ao comandante e às coroas na mesa do restaurante. Papo vai, papo vem, até que o cara é chamado às pressas por um de seus subordinados. Uma virada no filme totalmente inexplicável, desnecessária e sem sentido, já no finalzinho da história. O cidadão volta à mesa e comunica às madames que eles estão fodidos, ou seja, que em uma parada num país árabe, algum terrorista desocupado colocara uma bomba-relógio no navio e que o mesmo terá de ser evacuado urgentemente. (Quanta originalidade!!!)
Aí, é a mentira das mentiras: quatro mulheres recebem essa notícia e nenhuma delas, vejam só, fica histérica!!! Só em filme mesmo! Tudo bem. O alarme do navio soa e todos vão às suas cabines vestir o colete salva-vidas e se preparar para abandonar o navio. Quando está chegando ao convés com a pentelha da filha, a coitada da professora se desespera, porque a moleca solta sua mão e decide voltar pra cabine para pegar a bosta da boneca que ganhou de presente do comandante. Aí, outra mentira. Em meio àquele furdunço (como se diz na minha terra), a mãe chega ao quarto, vê a filha retardada conversando com a boneca e não lhe dá nem uma porradinha sequer. Só diz, calmamente: “oh, minha filha…” (com sotaque “purtuguês carregado). E sobe com a mongolzinha até o convés.
Quando chega lá, a terceira mentira cabeluda: todos já partiram. E, mais espantoso ainda: apesar de se tratar de um transatlântico, apenas uma porra de um barquinho, um bote, na verdade, dá conta de levar todo mundo.
As duas bestas ficam olhando o barquinho se afastar, quando o comandante percebe que elas foram deixadas. Como não têm mais condições de voltar pra buscá-las, ele manda que elas pulem. Claro que elas não o fazem. Aí,… BUUMMMM!!!! Sim, BUUUMMM, mesmo. A merda do navio explode (mas isso não é mostrado), e o filme acaba, sem mais nem menos, com o rosto assustado do comandante iluminado pelo fogaréu provocado pela explosão.
Por favor, se alguém percebeu alguma subjetividade que não consegui captar, por favor, me diga, ok? Ou melhor, vamos fazer um desabafo coletivo. Relate aqui algum filme tão ruim quanto ou pior (se é que isso é possível) do que esse que vi ontem.

Um comentário:

Anônimo disse...

Não me lembro de ter visto nos últimos tempos filme tão ruim quanto esse. Não sei onde estava com a cabeça na hora em que resolvi deixar de assistir "Confidências muito íntimas" para fazer companhia a ingrata da minha amiga (preciso dizer o nome dela?). Bjs, Vivi.