segunda-feira, janeiro 31, 2011

Presidente ou Presidenta?

Depois que a “tia Dilma” recebeu o aval para ser a primeira mulher a comandar o país, boa parte da população, e especialmente da imprensa, tem gasto parte de seu tempo tentando, desnecessariamente, definir se ela deve ser chamada de presidente ou presidenta (como quer a eleita). Bobagem pura. 

Não há nenhuma implicação sexista que justifique o emprego da segunda forma, ou seja, presidenta. Em minha opinião, ao contrário do que acredita a chefe de nosso Executivo, o uso desse termo de certa forma diminui a importância da façanha alcançada por ela. Quer saber por que? Ora, quem disse que os substantivos terminados em “ente” são exclusividade nossa, marmanjões? Quer um exemplo? Vamos lá: você já viu alguma parturiente do sexo masculino??

Levada a ferro e fogo a proposta de atribuir a letra A aos substantivos aos quais me referi, teríamos de ser, no mínimo, coerentes e aplicá-la igualmente aos adjetivos (já que vale pra um, que valha pra todos!). Aí, a coisa descambaria para um inominável caos semântico. Incorreríamos, na verdade, numa deselegância lingüística provavelmente (ou provavelmenta?) sem precedente (ou precedenta?) na nossa lusófona história. 
Façamos um exercício: substituir por A o E dos substantivos e adjetivos do texto a seguir.

“Depois de anos como católica fervorosa, dona Gertrudes converteu-se e virou crente. Sua filha, Hermenegilda, ao saber da notícia, caiu doente. Ficou tão mal que precisou ser hospitalizada. O médico que atendeu a paciente medicou-a e a deixou em repouso, dando-lhe alta logo em seguida. Mas Hermenegilda, famosa por ser prudente, resolveu confrontar a mãe, e lhe disse: ‘Mas, mãe, por que você sempre quer ser diferente?’. Sem entender a revolta da filha, dona Gertrudes retrucou: ‘E você acha que ser crente não me faz gente? O que importa, minha filha, é ser decente’.”

Agora, a versão com a nova redação:

“Depois de anos como católica fervorosa, dona Gertrudes converteu-se e virou crenta. Sua filha, Hermenegilda, ao saber da notícia, caiu doenta. Ficou tão mal que precisou ser hospitalizada. O médico que atendeu a pacienta medicou-a e a deixou em repouso, dando-lhe alta logo em seguida. Mas Hermenegilda, famosa por ser prudenta, resolveu confrontar a mãe, e lhe disse: ‘Mas, mãe, por que você sempre quer ser diferenta?’. Sem entender a revolta da filha, dona Gertrudes retrucou: ‘E você acha que ser crenta não me faz genta? O que importa, minha filha, é ser decenta’.”

Viram a besteira? Então, vamos deixar de frescura e voltar à paz gramatical.

2 comentários:

Claudia Bittencourt disse...

Também acho isso uma baboseira sem fim. Além de ser um termo muito feio.
Adorei o texto. Genial.
=*

valdiceyes disse...

Achei o texto a cara do recalque. Não há nada que diminua alguém como os seus feitos. Sacou?