domingo, março 27, 2011

Terra dos disfarces

Assim como acontece em todo o Brasil, Brasília também padece da maldição de ser a terra dos disfarces. Sempre que um problema não consegue ser resolvido (ou quando não há vontade ou coragem política para solucioná-lo), a prática mais recorrente é a de disfarçá-lo. Nos últimos dias, os jornais da capital têm abordado a proposta, a ser debatida no Legislativo local, que sugere a implantação do rodízio de carros, a exemplo do que é realizado em São Paulo.

Se fosse amparada por questões ambientais ou algo semelhante, essa proposta teria o meu incondicional apoio e adesão logo de partida. Mas a ideia, vejam só, é que o rodízio deveria ser implantado para se tentar aliviar o trânsito confuso de Brasília.

Tem se tornado prática nacional não se enfrentar o problema em suas bases, mas apenas em sua superfície. Com isso, não se resolve efetivamente o problema e ainda criam-se outros.

O problema do trânsito na capital federal, é claro, é influenciado, em parte, pela grande quantidade de automóveis nas ruas. Mas sua razão principal não é essa. Ela reside, isso sim, na incompetência administrativa, na falta de visão de futuro e (o que é mais grave) nos interesses escusos que rodeiam o setor do transporte público daqui.

Ir à raiz do problema seria enfrentar empresários sanguessugas, funcionários corruptos e políticos marginais, que fazem do sistema de transporte público um filão que certamente lhes engorda as contas bancárias em muitos dígitos. Mas aí é querer demais, né?

Um rodízio como o pretendido é uma proposta tão inócua quanto hipócrita. Joga pra debaixo do tapete a podridão que favorece a desordem, mas passa à parte da sociedade a impressão de que se está fazendo algo - quando na verdade não se está.

Essa notícia me causou o mesmo mal estar que senti à época do governo Arruda, quando o então digníssimo governador tirou da manga a inacreditável iniciativa de regularizar o trabalho dos flanelinhas. Meu Deus! Regularizar o que é, por natureza, inaceitável do ponto de vista legal! Afinal (que me perdõem os defensores da "categoria"), mas ser flanelinha não é profissão. Ninguém pede ou precisa dos serviços deles. Eles são impostos, na maioria das vezes, sob um clima de ameaças veladas (muitas vezes nem tão veladas assim). Além disso, usurpam espaços públicos como se lhes fossem particulares. Bastariam essas duas razões para que essa "regularização" jamais pudesse ser, sequer, cogitada. Mas, como vivemos em um país de absurdos rotineiros, muitas vezes nem nos damos conta de mais um.

E entre rodízios e flanelinhas, lá vamos nós...

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