quinta-feira, fevereiro 18, 2010

Inovar para melhorar

Dois fatos noticiados esta semana revigoraram a minha percepção de que o mundo efetivamente não é simpático a inovações, embora precise delas. Ambos os fatos vieram de mundos distintos: o carnavalesco e o esportivo. O que envolve o carnaval foi a vitória da escola de samba Unidos da Tijuca, nos tórridos dias de folia no Rio de Janeiro. O do mundo esportivo veio da polêmica envolvendo o atleta russo Yevgeny Plushenko, nas olimpíadas de inverno no gélido Canadá.

Em comum, os dois casos têm o fato de chamarem a atenção exatamente pela insistência em contrariar o que é convencional. Paulo Barros, o mais brilhante carnavalesco que vi desde que passei a acompanhar os desfiles das escolas de samba do Rio, passou os últimos seis anos promovendo espetáculos deslumbrantes e recebendo críticas impiedosas. Acusavam-no, sempre, de transgredir, com sua ousadia, a essência do carnaval.

Já o atleta russo, capaz de decolar seus patins da pista de gelo e dar quatro giros no ar, retornando ao solo com uma desenvoltura impensável, é apontado como exibicionista exatamente pelo que lhe confere o status de grande atleta: talento, potencialidade e coragem de avançar.

Disseram sempre que Paulo Barros promovia mais espetáculo que carnaval. Que asneira! Pra começo de conversa, desfile de escola de samba do Rio de Janeiro é espetáculo, sim, senhor. Além disso, quais seriam as principais marcas do carnaval se não a irreverência, o desrespeito às convenções e a capacidade de surpreender o público e o folião?

No mundo do esporte valem quase as mesmas premissas. O nosso William, do vôlei geração de prata, mudou os conceitos do saque com o hoje indispensável “viagem” (originalmente batizado de viagem ao fundo do mar). A ginasta romena Nadia Comaneci deixou boquiaberto o planeta Terra quando, nas Olimpíadas de Montreal, arrebatou notas dez em suas apresentações, quando nem os placares eletrônicos estavam tecnicamente preparados para essa façanha, o que obrigou os organizadores a improvisarem uma forma de mostrar ao mundo a perfeição dos movimentos apresentados por aquela menina de apenas 15 anos.

Nem preciso citar os outros gênios (de Galileu a Chaplin) que, em suas áreas, geraram controvérsias com suas inovações, mas que hoje recebem a gratidão do mundo inteiro.

Quem inova não tem vida fácil, e nem sempre é reconhecido em vida. Mas é quem move o mundo e merece, por isso, a minha admiração. Que venham mais inovadores por aí.

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