quarta-feira, janeiro 28, 2009

Língua hábil

Assisti, há algumas semanas, a um programa de tevê no qual se travava uma discussão sobre a reforma da língua portuguesa, em vigor desde o primeiro dia de 2009. Simpatias ou críticas à parte, o que me irrita profundamente na discussão que tomou conta não só do programa, mas de boa parte da sociedade, é a ausência de foco nos argumentos para a reforma, e não sobre as mudanças em si trazidas por ela.

Ora, não é (ou pelo menos não deveria ser) segredo para ninguém que a língua (qualquer uma) é algo dinâmico, vivo, moldado pelo tempo, hábitos, costumes, intenções e conveniências daqueles que a falam. Portanto, reformar ou reformular suas bases não consiste, necessariamente, em um problema. A grande questão dessa reforma, para mim, são os argumentos apresentados. São dois que, em minha despretensiosa opinião, são, se não hilários, pelos menos ingênuos.

Um deles é o de que a língua está sendo reformulada para possibilitar maior interação entre os países que utilizam o idioma português – primeira balela! Os prováveis impedimentos ou dificuldades comunicacionais entre os falantes da língua de Camões sempre existiram e para sempre existirão. Eles não residem no fato de algumas palavras serem grafadas desta ou daquela forma, de o trema ser ou não obrigatório em alguns “Us”. Residem, sim, nos sentidos que diversos termos e expressões possuem nos países em que o português é a língua oficial. E nem poderia ser diferente. Afinal, língua é, sobretudo, fruto de um contexto sócio-cultural. Vá a Portugal e diga que pretende entrar numa bicha. Certamente não causará qualquer tipo de reação de surpresa. Diga o mesmo no Brasil e, na melhor das hipóteses, será alvo de gozação.

E nem precisa ir ao exterior para perceber isso. Uma rapariga é certamente muito mais mal vista no Nordeste do que no Sul. Australianos, canadenses, britânicos e estadunidenses jamais deixaram de se comunicar porque o inglês deles têm diferenças significativas. E tais diferenças jamais deixarão de existir.

Bem,o segundo argumento é o mais, digamos, engraçado. Dizem que essa é uma forma de dar mais peso, tornar o português uma língua mais importante, mais forte! É de gargalhar. Um dos entrevistados no programa de tevê citado acima repetiu uma frase (cuja autoria esqueci) bastante verdadeira: “o que torna uma língua forte é um exército forte e uma marinha forte”. Entenda-se a força dessas forças armadas como consequência do poderio econômico dos países e está tudo dito. Sinceramente, poderíamos nos ocupar em ensinar nosso povo a falar o português. Do resto, a vida se encarrega.

Um comentário:

Viviane Viana disse...

Perfeito! Concordo com cada vírgula.