sábado, maio 24, 2008

O dia em que o chocolate quente quase provocou uma tragédia

Os que me conhecem já sabem de cor. Aos que não sabem nada ao meu respeito preciso informar que sou o que se costuma chamar de chocólatra, ou seja, viciado, apaixonado, aficcionado, desesperado por essa que certamente é a maior iguaria gastronômica registrada na história da humanidade.

Pois bem, agora que o outono tem ajudado a baixar as temperaturas durante as noites, e para dar vazão ao meu delicioso vício, resolvi, de novo (socorro!) encarar o fogão. O projeto: fazer chocolate quente. Ok, antes de criticarem a minha ausência de talento culinário, saibam que o chocolate quente que eu queria fazer é aquele chocolate quente de verdade. Não essa coisinha rala, que na verdade é Nescau aquecido. Gosto daquele chocolate quente cremoso, de caldo grosso e que, aliado ao aroma inconfundível, tem a consistência capaz de fazer delirar os chocólatras como eu.

Sempre tomo uma delícia dessa num café em frente ao cinema de um shopping aqui de Brasília. Um dia, comentando sobre isso com um colega de trabalho, ele disse que essa consistência que tanto me agrada nada mais é do que o resultado da mistura do chocolate em pó à famosa Maizena. Um amigo de São Paulo também disse que a suspeita faz sentido.

Bem, como ambos são muito mais familiarizados ao universo da cozinha do que eu, acreditei sem questionar. Hoje, então, resolvi executar o plano. Fui ao supermercado. Primeira coisa: escolher o pó. Já devidamente alertado pelo amigo paulistano, não fiz a besteira de comprar achocolatado, mas, sim, chocolate em pó. Diz ele que é diferente. Bem, escolhi o que mais parecia agradar o meu gosto. Marca famosa, embalagem bacana e promessas tentadoras. Pronto, os artifícios da publicidade deram certo e me convenceram.

Um pouco mais à frente, fui pegar a Maizena (aliás, esse é nome comercial, né? Mas não sei qual o nome técnico do produto). Ok, não me preocupo em fazer um mershandising aqui de vez em quando. Ao chegar em casa, e depois de escrever alguma coisa para o mestrado, decidi que chegara a grande hora. A pia estava impecável: limpíssima e desocupada para a minha arte.

Peguei a (única) panela que tenho em casa. É, é a única mesmo, e, pra ser sincero, dá e sobra, porque só a usei umas duas vezes, para esquentar água para desentupir a pia do banheiro com Diabo Verde (segundo mershandising). A panela é pequenininha, coitada. Não dá para fazer nada que leve mais do que um copo de 200 ml de alguma coisa.

Num recente almoço que fiz aqui em casa, a turma de amigos (especialmente as impiedosas amigas) não acreditaram na ausência de tudo em minha cozinha. Acharam o cúmulo eu não ter, por exemplo, sal e açúcar em minha residência. Mas, vejam bem: pra que diabos eu teria as referidas especiarias se não sei fazer absolutamente nada em termos de comida? Sempre como na rua. Quando me alimento em casa, é a partir de coisas prontas (pão, pizza, esfirra do Habib’s etc). Até que já me aventurei na cozinha e fiz umas saladas – narradas aqui neste blog – mas, como enjoei delas, continuo optando sempre pelo pret-à-porter (ou manger) culinário.

Enfim, voltando ao hot chocolate. Peguei os produtos no armário, arregacei as mangas e, quando já estava quase pronto pra começar a agir, eis que me deparo com um imprevisto: não tenho colher de pau! Peguei o celular e enviei mensagem a uma amiga mestre-cuca de primeira e conselheira gastronômica para todas as horas. A mensagem: “Posso mexer chocolate quente com colher normal? É que não tenho colher de pau...” Suspeito que a ausência de resposta por parte dela deva-se às prováveis gargalhadas que ela certamente deve ter dado ao ver minha indagação.

Tudo bem, brasileiro que sou, e destemido por natureza, resolvi por conta própria. Lembrei que, no meu aniversário, ganhei da minha ex-estagiária um jogo de canecas que trazia, também, umas colheres feitas do mesmo material das canecas. Achei que utilizá-las seria menos trágico do que usar colheres dessas comuns, de ferro (ou alumínio, ou aço... sei lá de que essas porras são feitas...).

Bem, medi uma caneca de leite e despejei na filha única (a panela). Em seguida, peguei o chocolate em pó. Enchi uma colher de sopa e joguei sobre o leite. Depois, chegou a vez da atriz principal, a responsável pela consistência sonhada para meu chocolate quente: a Maizena. Como não fazia a menor idéia da quantidade a ser usada, achei por bem usar a mesma quantidade de chocolate. Assim sendo, tasquei uma colher de sopa do referido pozinho em minha receita. Agora, era só mexer.

Feliz, eu usava a colherinha-do-presente-da-ex-estagiára para mexer a delícia à minha frente. Mexia, mexia, mexia, mas não via muito progresso. De repente, começaram a surgir uns carocinhos no fundo da panela. E agora? Nada de pânico. Apertei-os com a colher até que deles não tive mais notícias. Enfim, a mistura começara a engrossar. “Opa, tá dando certo”, pensei entusiasmado. Continuei mexendo. Para minha surpresa, o caldo começou a ficar muito espesso.

Ops, não tem problema. É só jogar mais leite. A coisa amoleceu. Mexi, mexi, mexi... resolvi provar. Huuuummm. O chocolate é meio amargo. Putz, que vacilo. E olha que na embalagem diz que é levemente adoçado. Tão levemente que o danado ficou pesadamente amargo.

Lembrando do almoço que citei anteriormente, vasculhei a geladeira e achei uma bolinha feita com papel alumínio. Ali dentro, eu sabia que existia sal ou açúcar. A certeza vinha do fato de, durante àquele almoço, eu ter tido de ir buscar sal e açúcar na casa da amiga cozinheira.
De toda forma, dei uma provadinha só para me certificar de que não era sal. Afinal, para quem já trocou tomate por cáqui uma confusão dessa magnitude não seria exatamente uma surpresa, né?
Joguei uma colher de açúcar sobre a mistura. Provei um pouco e achei que estava bom. Quando o caldo voltou a engrossar bastante, decidi que era hora de apagar o fogo. Aí, o primeiro acidente. Não sei por que razão, o cabo da panela soltou-se da dita-cuja bem na hora que eu a erguera. Puta merda!! Por pouco não morri – ou, pelo menos, não fiquei todo queimado. Respingou chocolate quente (ou algo semelhante) pra tudo que é lado. O pior é que a casa tava limpinha... Pingou na parede, em todo o fogão e na minha barriga (ainda bem que o fogão é alto, pois poderia ter pingado em áreas mais comprometedoras).

Tudo bem. Já que estava conformado de ter de limpar tudo depois, e uma vez que a fome e a curiosidade estavam me torturando, decidi que não iria esquentar a mufa por tão pouco.
Peguei a caneca-de-presente-da-ex-estagiária e nela despejei o fruto do meu cozinhar. O caldo tava grosso, cheio de caroços (eles não sumiram), mas estava bonito e cheiroso. Fiquei feliz e sentei-me diante da tevê com minha caneca-de-presente-da-ex-estagiária nas mãos. Soprei um pouquinho mexi mais um pouco e levei à boca a primeira colherada. Huuuuummm, parecia estar bom. Percebi, porém, que poderia ser entusiasmo. Segunda colherada... algo mudou. A coisa já não correspondia à primeira impressão. Senti o gosto dos temíveis carocinhos e não fiquei muito contente.

Terceira colherada... putz, ficou uma bosta! Virou papa. Acho que ficou com muita Maizena, ou muito chocolate, ou pouco açúcar... ou pouco talento. Mas, como eu não poderia desperdiçar tudo aquilo, e como a alta temperatura ajuda a disfarçar o gosto, tratei de dar fim a todo aquele conteúdo. Não foi muito fácil, confesso, mas percebo que agora, enquanto redijo este texto, uma certa manifestação carnavalesca começa a surgir em minha barriga. Considerando que ainda tenho uma cozinha pra limpar, uma panela velha e quebrada para dar fim e uma gororoba para me desfazer, é melhor parar por aqui...

3 comentários:

Ana Laura disse...

Muuuuita maizena, Wagner!
Tem que dissolvê-la em água, uma colherinha de chá, a parte, e depois adicionar aos poucos, aguardando o desejado "engrossar".
Gostou? Experiência de mingau do meu irmão mais novo...
Bjo!

Unknown disse...

Olá!
Estava procurando algumas crônicas na net e me deparei com tua história tragicômica! rsrsrs Desculpe, mas ri mtooo!!!
Cheguei a imaginar toda a cena!!!

Viviane Viana disse...

Nem de longe fiquei com água na boca dessa mistura...
Pois é. Também tenho blog e, pelo visto, com mais ânimo que você para escrever. Ou será mais tempo?

Beijos