terça-feira, fevereiro 13, 2007

Nós

Toda a comoção em torno do inacreditável assassinato do garoto João Hélio, arrastado por facínoras pelas ruas do Rio, não é inédita e – infelizmente – não será a derradeira. Ainda havemos de ver novas tragédias, novas famílias aos pedaços e, o que é mais lamentável, o nosso Estado refém de sua própria ineficácia, incompetência e corrupção. Os discursos de que não se pode reagir à violência sob emoção seriam absolutamente coerentes se difundidos na Suécia, na Dinamarca ou no Canadá. Não no Brasil. Não temos mais discursos emocionais sobre o tema, porque a emoção surge do inesperado. E aqui, para a nossa acachapante vergonha, o inesperado será quando a violência deixar de produzir vítimas a números assustadores.
Há quem diga que não temos mais saída. Discordo, por mais que as evidências queiram mostrar o contrário. O que não temos é governos competentes e honestos, capazes de, pelo menos em caráter emergencial, deixarem as maracutaias políticas em segundo plano e dedicarem-se aos problemas centrais do País. Também não temos uma sociedade exigente, que vá às ruas não apenas para aplaudir os ídolos do futebol ou para encher a cara em dias de festa. Não temos, sequer, um povo razoavelmente educado, capaz de despertar para as suas próprias necessidades ou de incorporar um espírito de coletividade. Sem isso, de fato, não caminharemos nunca. Aliás, caminharemos. Para trás.

5 comentários:

Ana Laura disse...

O que me preocupa é a forma que o assunto tem sido tratado. É muita manipulação! Vc viu o JN ontem? A Fátima Bernardes contando como fez a entrevista com os pais do garoto, a cara de assombro do Bonner. Todos puxam a sardinha pro seu lado e a discussão séria, pensada, planejada fica pra mais tarde...
Realmente, não se deve decidir as coisas sob o calor dos fatos, mas iniciativas devem ser tomadas. E não é só coisa de países como o Brasil não. Em sociedades melhor resolvidas, temos outros tipos de violência e falta de ética. A questão é que esse planeta tem caminhado para um desfecho esquisito, sem volta. Eu esperava por uma grande revolução cultural, espontânea, mundial e simultânea - a tal era de Aquário, lembra? Quando será? Ou já foi? Ou estamos nela e a revolução é ao contrário, é uma caminho para o fim? Hum...

Wagner Vasconcelos disse...

Não vi todo o JN de ontem, Lalá. Nem vi toda a apologia à "super" cobertura que a Globo deve achar que está fazendo. Na verdade, fico revoltado, também, com a cobertura da imprensa sobre a violência. Ficam todos os veículos de comunicação como ratazanas famintas, correndo em desespero atrás da comida recém-chegada para saciar a sua fome - nesse caso específico, fome de audiência. Amanhã ou depois, esse caso estará esquecido, como estão os demais casos assombrosos que horrorizam nossa rotina. Parece até o que caquético sistema prisional, as falhas jurídicas e as desigualdades sociais só existem quando um assassinato mais bárbaro é registrado. Depois, tudo vira fumaça. Vc está coberta de razão quando diz que em sociedades melhor resolvidas também há esses tipos de problemas, mas também é verdade que, aqui no Brasil, se compararmos com esses outros países, a luta é mais desigual — infelizmente. Concordo, também, com o fato de nosso planeta estar à mercê de um desfecho esquisito. Mas acho que estamos nesse caminho desde que nos tornamos sociedade. A Era de Aquário, se chegou, foi a alguma dimensão paralela a nossa. Ou desistiu de vir...
Beijos (ainda com esperanças de dias melhores)

Anônimo disse...

Wagner, a violência naqueles países não tem a nossa desigualdade, é verdade, mas é igualmente chocante. A violência, de toda sorte, está se espelhando pelo mundo. Lembra daquela mãe mineira que jogou a filha na lagoa dentro de um saco de lixo? Viu aquela autríaca que trancou as três filhas por 7 anos, longe da luz do dia, sem contato com o mundo? E os franco-atiradores que continuam agindo nos EUA? Eu também espero dias melhores, mas sem muitas esperanças...
Ana Laura

Wagner Vasconcelos disse...

Sim, Lalá. Você acertou na mosca! A violência tem registros chocantes onde quer que ela ocorra, do Camboja à Rússia, do Paraguai à Finlândia. A maldade parece estar inserida em determinados genes de nossa espécie e que, quando combinados, produzem psicopatias inacreditáveis. Por isso, não podemos nos enganar: sempre haverá brutalidade enquanto o ser humano ocupar esta massa planetária.
A minha revolta é que, em países chamados de desenvolvidos, esses casos chocam. Aqui, infelizmente, eles já são rotina - e, o que é pior: não são tratados com a seriedade necessária.
Penso em estudar o desenvolvimento de uma nave espacial para tentar povoar outro planeta - mas só com almas previamente selecionadas... (pode deixar que vc, o Rick e a Helena têm assento garantido!) Beijos!

Bruno Amatuzzi disse...

Wagner, procurando por crônicas, achei o teu blog. Gostei dos textos. Em especial este, sobre o caso do garoto João Hélio, me chamou a atenção. Decidi não escrever sobre este tema no meu blog, justamente porque o assunto já estava sendo tratado por todos, de todas as formas possíveis. Em respeito ao garoto, talvez, preferi o silência. Mas não posso deixar de endossar as suas palavras sobre aquele episódio. Ao invés de fazerem algo concreto, nossos político preferem mudar o nome do partido...sobre a indignação com a violência, leia uma crônica que escrevi no meu blog. Tá bem nessa linha...
www.cronicasensaiadas.blogspot.com
Abraço,
Bruno