quinta-feira, outubro 20, 2005

O bendito referendo

Analisei friamente, desde que se começou a falar em desarmamento, os argumentos de quem é contra ou a favor do fim da comercialização de armas e munições no Brasil. Vou logo dizendo que, de cara, simpatizei com a idéia do SIM e, depois de tudo o que li, vi e ouvi sobre o assunto, afirmo que minha opinião se mantém inalterada. Acredito que esse é um dos muitos passos para revertemos o vergonhoso e lastimável estado de violência que vivenciamos. Repudio os argumentos de quem afirma que o desarmamento não vai acabar com a violência. Mas quem diabos disse que vai?! É evidente que temos tomar uma infinidade de medidas — e o desarmamento é uma delas. Temos de dar o primeiro passo e parar apenas de reclamar. Em janeiro deste ano, escrevi quatro textos aqui sobre outras ações que acredito serem fundamentais para reduzir a níveis civilizados (se é que conviver com violência tem traços de civilidade) os registros de barbárie dos dias atuais.
Respeito a opinião de quem é contrário ao desarmamento, pois entendo suas preocupações e angústias — ainda que discorde deles. Só que, ao longo desta semana, recebi dois e-mail's do pessoal do NÃO. Infelizmente, usaram do deboche e do cinismo para defenderem a sua tese, perdendo uma excelente oportunidade de exporem argumentos plausíveis. Já me dei ao trabalho de responder a algumas dessas mensagens (com argumentos sérios), mas confesso que não o farei mais. Mas o artigo a seguir, escrito pelo meu amigo Ricardo Karam (marido da famosa Lalá) sintetiza de forma esplêndida o pensamento e as razões da turma do SIM. Ele respondeu a um desses e-mail's, que listava, de forma irônica, razões de uma hipotética mudança de posição de um favorável ao NÃO.
Eis o texto:


"Já eu, ao contrário do criativo autor, ia votar sim, mas também mudei de idéia. Ia votar sim por ser um humanista radical, defensor intransigente da vida, mesmo que dos meus inimigos. Daqueles que gostariam de ver as armas banidas não só do país, mas do planeta e do universo. Talvez porque tenha presenciado, ao vivo e à cores, dentro do espaço diminuto de um ônibus, a execução sumária com um tiro na testa de um jovem policial. Jovem policial treinado, preparado e pago pra reagir. Mas confesso que minhas convicções ruíram e me vi seduzido pela presença do Bolsonaro. Se um homem com a estatura e respeitabilidade dele é contra, quem sou eu pra ser a favor? Além do mais, há toneladas de estatísticas que corroboram o faroeste. Segundo o FBI [FBI, 2001], "para cada sucesso no uso defensivo de arma de fogo em homicídio justificável, houve 185 mortes em homicídios, suicídios ou acidentes". Uma pesquisa realizada no estado do Rio de Janeiro mostra que: "a chance de morrer numa reação armada a roubo é 180 vezes maior de que morrer quando não há reação. A chance de ficar ferido é 57 vezes maior do que quando não há reação" [Iser, 1999]. Segundo o DATASUS, morrem mais mulheres do que bandidos por uso de arma de fogo em casa. É uma pena, mas afinal há sempre um preço a se pagar pelo direito às armas, não é mesmo? A polícia do Rio descobriu que 40% das apreendidas com ladrões são contrabandeadas. As 60% restantes, que foram compradas com nota fiscal por cidadãos de bem e roubadas para alimentar o crime, só mostram que precisamos ser mais cuidadosos com nossos pertences. E os efeitos do desarmamento nos países que o adotaram não foi tão bom assim, pois na Austrália os homicídios caíram só 50% (Australian Institute of Criminology, 2003). E se houvesse ainda alguma sombra de dúvida, é só olhar os relevantes serviços prestados à sociedade pelos membros da Bancada da Bala. Fleury é aquele nobre governador que "limpou" da sociedade 111 presos ajoelhados, Alberto Fraga, famoso deputado de Brasília, é um notório defensor da civilidade e dos direitos humanos, os quais propagou com seu estimado esquadrão da morte da polícia do Distrito Federal. Por fim, chega de me tirarem direitos. Já me proibiram de destruir a camada de ozônio, não posso usar defensivos agrícolas tóxicos na minha horta, não posso dirigir bêbado nem drogado, que mais vão querer me proibir ou obrigar a fazer? Abaixo uma pequena história contada pela equipe do Hospital Souza Aguiar, que atende diariamente a casos de ferimentos por arma de fogo. - Um dia chegou um paciente baleado. Em seguida entrou um homem magro e baixo e correu para abraçá-lo. Eu ainda cheguei a comentar que ali não era permitida a entrada de parentes quando me disseram que ele era o agressor. Era um médico que, durante uma briga no trânsito, acabou baleando o outro motorista. Ele era um homem de bem que virou um assassino".

5 comentários:

Anônimo disse...

Nem estou no Brasil mas vou fazer uma campanha grande pelo sim daqui mesmo!!!
Adivinha quem sou eu??? heheheheh

Anônimo disse...

Wagner, virei fa desse tal de Ricardo Karam. Ele tambem tem blog?? Escreve divinamente!
Adivinha quem eh de novo :)

Wagner Vasconcelos disse...

Tenho dois "suspeitos" de serem o anônimo aí. Bem, em relação à pergunta sobre se o Ricardo tem blog, a resposta, infelizmente, é não. Mas acho que essa é uma boa oportunidade para ele pensar seriamente no assunto. Vou sugerir isso a ele.

Anônimo disse...

Rapaz! Olha que vou incentivar o criar um blog também!
Valeu, Wagner. Acho que o NÃO vai ganhar, mas pelo menos a gente terá feito a nossa parte...
Beijos,
Lalá

Anônimo disse...

ESPM ,fez um site pro vestibular que dá para você gravar vídeo on-line,enviar para os amigos ,e ver o porque é legal estudar lá ...Vale a pena conferir !