quarta-feira, agosto 24, 2005

A vovocop e a vergonha da imprensa

Há situações hilárias. Há situações patéticas. Há situações ridículas. E há situações absolutamente absurdas, inaceitáveis e revoltantes. O caso da "vovó cineasta", que ao longo de dois anos registrou em vídeo a rotina de criminalidade nas encostas de Copacabana, é emblemático sobre esse último tipo de situação.
Foi nada menos que vergonhosa a cobertura da imprensa a respeito do caso. Todas as notícias que vi sobre o assunto se limitaram a enaltecer a bravura da velhinha justiceira sem observar o que de mais importante havia ali. Não contesto nem desmereço o trabalho e a demonstração de cidadania da vovozinha. Pelo contrário. Uma dose senso de coletividade como o dela é um artigo raro no Brasil. Fixamos o olhar em nosso próprio umbigo, fazemos de conta que o mundo e os problemas ao nosso redor são meras abstrações e assim tocamos a vida, colaborando com a perpetuação da realidade terceiro-mundista que não larga do nosso pé.
Só que o que a imprensa não percebeu (ou teve preguiça de perceber) é que a ação da vovó é a prova mais cabal da falência de qualquer tipo de política de segurança pública no Brasil. O Estado definitivamente abriu mão da sua responsabilidade e atribuiu ao cidadão o papel de polícia, de investigador e, claro, o de eterna vítima. (por isso, duvido muito que o desarmamento vingue por aqui). As palavras do secretário Marcelo Itagiba, durante a coletiva sobre o caso, deveriam ter sido duramente questionadas, ou mesmo combatidas, pelos jornalistas que ali estavam, e não meramente reproduzidas, em tons ufanistas, em seus veículos de comunicação. Mas isso daria muito mais trabalho e, certamente, não renderia uma chamada tão interessante quanto a da "vovocop".

Um comentário:

Anônimo disse...

Faço minhas as suas palavras.
É impressionante! E virou chacota, se tornou um fato interessante e curioso, quando deveríamos lamentar.
Lalá