domingo, maio 15, 2005

Sufoco(s) em Cuiabá

Ok, vocês já perceberam que em todas as viagens que faço sempre passo por situações que, depois de vivenciadas, viram relatos de comédia. Mas o que aconteceu nessa última viagem superou todas as trapalhadas que eu já protagonizei.
Dessa vez eu fui a Cuiabá, cidade na qual jamais havia posto os pés nesses 31 anos de Wagner. Fui a serviço da revista, trabalhei muito e passei calor. Aliás, muito calor. Nem o caldeirão do capeta é mais quente que Cuiabá. Algumas pessoas — a minha editora, inclusive — haviam me alertado sobre as altas temperaturas da capital matogrossense. Bem, mas eu nasci no Recife, me criei em Natal e passei uma temporada no Rio. Pensei que nada em termos de calor teria a capacidade de me surpreender. Mas queimei a língua (quase literalmente). Desci do avião e pensei que houvesse batido as botas e chegado ao reino do “sete peles”, tamanho foi o bafo quente que envolveu a todos os passageiros do vôo 3805 da TAM.
O aeroporto de Cuiabá, para a nossa triste surpresa, é minúsculo e tem uma infra-estrutura precária — uma vergonha, principalmente por ser uma cidade com um forte apelo turístico, pois está perto do Pantanal e da Chapada dos Guimarães. O ônibus da empresa que faria o traslado até o hotel demorou a sair. Enquanto isso, suávamos em bicas esperando o momento da partida. Enfim, partimos. O ônibus era meio “vagaba”, mas pelo menos tinha ar-condicionado. Tudo bem, o aparelho não gelava o quanto eu gostaria, mas foi o suficiente para não nos matar de calor.
Se vocês acham que à noite o calor dá uma trégua, tirem a sua egüinha pocotó da tempestade. A noite cuiabana também é quente pra cacete. Estava 32ºC, pra minha infelicidade.
Bom, daí em diante, nada que valha a pena detalhar. Andei pouco pela cidade. Mas o que vi serviu para desfazer a impressão equivocada que eu tinha a respeito do lugar. Cuiabá é uma cidade de médio porte, com uma infra-estrutura bastante desenvolvida e pessoas (pelo menos as quais com quem mantive contato) muito gentis. O problema é o diacho do calor.
Tenho por hábito nas viagens conversar muito com os motoristas de táxi. Coisa de jornalista curioso. Acho-os uma excelente fonte de informação, sobre os mais variados assuntos: de política a meteorologia. Para todos eles, acabo repetindo basicamente as mesmas perguntas. Não, não é por falta de criatividade minha. Mas é para chegar a alguns consensos sobre os tais assuntos que abordo com eles. Faço como que uma média de suas respostas e analiso os fatos sobre o local. O mais aterrador foi realmente o clima. Todos me disseram que dias mais amenos, ou até mesmos frios, totalizam, no máximo, quatro, dos 365 do nosso calendário gregoriano.
Para acabar logo com a angústia de vocês, vou agora narrar a trapalhada número um da minha viagem. No dia do encerramento do evento, um ônibus da agência de viagem nos buscaria em nossos hotéis e nos levaria ao aeroporto. Os horários eram marcados com duas horas de antecedência aos horários dos vôos (o meu vôo estava marcado para 17h). Como sou muito desconfiado pra esse tipo de coisa, fui ao estande da agência e confirmei o serviço. “Está tudo certo, senhor. Às 15h, o nosso ônibus passará no seu hotel”, respondeu-me uma simpática atendente.
Beleza. Saí do Centro de Eventos Pantanal (eis o nome do centro de convenções de lá), fui ao Shopping Pantanal (nome do maior shopping de lá), almocei correndo e voltei ao hotel para arrumar minhas coisas, fechar a conta e aguardar o tal do transporte. Vocês sabem que, em hotéis, as diárias se encerram ao meio dia e que, nesse horário, você tem de desocupar o quarto caso não queira pagar outra diária. Alguns, inclusive esse no qual me hospedei, dão um alívio e te deixam ficar até as 14h. Bem, mas como o meu ônibus só chegaria às 15, pensei que me deixariam permanecer no quarto até esse horário. Que nada! O viadinho do recepcionista foi curto e grosso. “Infelizmente, não pode, senhor. O prazo máximo é 14h”. Claro que xinguei oito gerações do infeliz em pensamento, mas também não iria criar caso por causa disso. Depois de um refrescante banho e de fechar a minha conta, fiquei no lobby do hotel. Usei a internet, li alguns jornais e quase chorei de rir com a coluna do Zé Simão, que na sexta-feira passada caprichou nos comentários ao prematuro divórcio do “Ronalducho” e “Bocarelli”.
Acontece que o tempo foi passando e nada do meu transporte chegar. Olhei no relógio, 15h10. Tudo bem, é Brasil, vou esperar mais: 15h20, 15h30, 15h45... nada! “Porra, vou perder o avião” pensei. Isso significaria ter de pagar mais uma diária e, o que é pior, pegar outro vôo às 5h da madrugada. Liguei para a agência. Disseram que uma van me buscaria. Van merda nenhuma. Ninguém veio. Relatei o fato e eles se prontificaram a resolver o assunto. Realmente foram rápidos. Às 16h chega um cara num Uno branco (sem ar-condicionado) para me levar ao aeroporto. Perguntei o que acontecera com a van. Não soube responder. Disse que ela passou em todos os hotéis, mas, por um mistério desses da vida, não passou no meu. Tinha de ser no meu, né?
O cara era legal. Acho que, para me fazer esquecer o calor (como se isso fosse possível) e para não me deixar preocupado em perder o vôo, ia conversando bastante e me contado uma série de coisas sobre a cidade. Pro meu desespero, pegamos um engarrafamento. Nada muito grande, mas o suficiente para me irritar ainda mais. Afinal, já eram 16h10 e eu ainda não havia chegado ao aeroporto.
Enfim chegamos: 16h25. Olhei para aquele aeroporto com infra-estrutura de rodoviária de interior e não acreditei. A fila de passageiros fazendo o check-in saía do terminal!!! “Puta merda, não vai dar tempo!” Falei com um cara da Infraero. “Olha, meu vôo sai daqui a 35 minutos e essa fila está imensa. Só tem uma pessoa atendendo todo mundo. Não vai dar tempo”, avisei. Tranqüilizador, o cara disse: “Não se preocupe. Se o senhor ficar na fila, eles vão ter de esperar”. Sinceramente, vocês acreditariam nessa declaração? Nem eu. Ia passando uma mocinha com o uniforme da TAM bem na hora. Fodeu-se. “Ei, moça, por favor...” e narrei todo o drama. Ela disse que eu não precisaria me preocupar pois eles dariam um jeito. Por via das dúvidas, decorei o nome dela (Michelle) para, quem sabe, um futuro processo por danos morais.
O pior não era apenas esperar na fila. Mas sim ficar debaixo daquele calor saariano, com mala, cuia e pouca paciência. A dor de cabeça foi inevitável. O sol estava de matar até camelo. Todo mundo estava reclamando e outras pessoas estavam na mesma situação que eu. Mas enfim chegou a minha vez. Fiz meu check-in, despachei a mala e corri para o que eles chamam de sala de embarque. Todo mundo já havia entrado no avião. Aliás, nos aviões.
O aeroporto de Cuiabá não tem aquelas pontes de embarque. A gente segue a pé, pela pista, até a aeronave. O problema é que eu era o último, e as pessoas à minha frente seguiam para dois aviões, (um Air Bus e um Folker 100), ambos da TAM, localizados na pista. Fodeu. Qual será meu avião? Ninguém mais na pista para me dar uma luz. Resolvi pensar (algo que às vezes faço). “Bem, quando vim pra cá, o avião era um Folker 100. Deve ser a mesma coisa agora, claro”. E lá vai o Wagner subindo as escadas do bendito avião. “Boa tarde, senhor, seja bem-vindo”, disse a aeromoça. “Boa tarde. Ah, só pra confirmar, esse é o avião que vai pra Brasília, né?”, perguntei eu, já aguardando o “sim”. Mas eis que, pra minha total desmoralização, recebi a resposta contrária. Preocupada com aquela criatura sem rumo a sua frente, a comissária disse: “senhor, o avião para Brasília é o outro. Apresse-se!”. Puta merda!!! Lá fui eu, descendo as escadas do avião correndo e, correndo mais ainda, chegando ao outro avião. E ainda perdi o meu lugar na janela...

3 comentários:

Anônimo disse...

E eu que pensei em levá-lo ao Maracanã, pra ver um jogo do meu Vascão. Com esse teu pé-frio, NEM PENSAR!!!!!!
Um grande abraço,
Jesuan Xavier

Anônimo disse...

Pois é, Jesuan...E, para piorar, a esposa dele ainda chegou atrasada no aeroporto de Brasília para buscá-lo (rs). Bjs, Viviane.

Wagner Vasconcelos disse...

Jesu, engraçadinho. O seu Vascão não precisa do meu "pé-frio" para sofrer dentro de campo. Já tem 22 pés frios que fazem isso por mim no time do seu tio Eurico. A lavada do fim de semana passado comprova a tese. eh eh eh
Abração.
Quanto a Viviane, vou passar a avisar que chegarei ao aeroporto duas horas antes do horário marcado. Quem sabe assim ela chega na hora...