domingo, abril 17, 2005

O estranho mundo das salas de aula - parte II

Vocês viram, anteriormente, minhas impressões sobre os professores do cursinho preparatório pra concurso que estamos fazendo aqui em Brasília. Hoje, conforme prometido, vou falar sobre algumas figurinhas que freqüentam as salas de aula na condição de alunos. Gente, tem cada “artista”...

A MISS FEIURA
Vamos começar por uma figura que, assim como os professores “estrelas”, é comum a quase todas as salas de aula: a exibida-metida-a-gostosa. Aliás, vocês já notaram que, quanto menos gostosa ela de fato é, mais exibida a criatura se torna? Eis um fenômeno a se estudar!
A figura da minha sala é patética, mas me faz dar muitas gargalhadas. A cara de burra é o primeiro requisito que lhe dá destaque. Faz questão de manter um ar de quem não está nem aí pros concursos e que seu grande objetivo, ali, é mostrar ao mundo a beleza que acredita ter. Para isso, ela adota algumas estratégias especiais. Uma delas, claro, é a forma de se vestir. Tem que ter barriga de fora, peitos estourando na blusa e bunda ostentada numa calça ultra-apertada — que permite descobrir até o signo da dita-cuja. O toque final são os cabelos hediondamente alisados — sabe-se lá a que custas.
Mas, como essa tática também é usada por várias outras alunas, a cidadã adotou um diferencial que, em sua oca cabecinha, deve funcionar muito bem. É assim: a criatura chega cedo ao curso e, por isso, marca o lugar na primeira fila da sala — e isso já faz parte de sua estratégia. Mas, só depois do que todos os alunos, mesmo os atrasados, entram em sala, se acomodam em suas cadeiras e prestam atenção à aula já iniciada pelo professor, é que a beldade adentra o recinto. Meus amigos, ela deve se sentir a mais reluzente das top models, de tanto que rebola, faz charminho, ergue o nariz e transforma o corredor entre as carteiras em sua passarela. Passa horas até sentar aquela bunda decadente na porra da cadeira. Faz questão de passar, bem devagar, na frente de todo mundo, pouco importando se está atrapalhando a aula ou não.
Mas é óbvio que isso não é suficiente. No meio da aula, quando estão todos em silêncio monástico, a criatura (advinha?) se levanta! Deve usar o argumento de querer ir ao banheiro ou coisas do gênero. Mas, na verdade, o que quer é a “encantar” a todos com sua pretensa beleza de padrões gregos. E aí, vai todo aquele ritual de novo, tanto quando sai como quando volta pra sala. O ritual se repete várias vezes, por todas as aulas. Não preciso nem dizer que ela também é a primeira a se levantar para sair antes do término da aula, né? O mais engraçado é que, num dia desses, acho que exausta de tanto desfilar, a mocoronga dormiu em plena sala de aula. Mas, quando eu falo dormir, é dormir mesmo. Serviu de deboche para toda a turma. O próprio professor, ao microfone, pediu à garota que estava ao lado dela, para despertar a “feia adormecida”. Mas vocês acham que ela ficou constrangida? Que nada! Adorou ser o centro das atenções de novo — ainda que babada.

MULHER RELIGIOSA
Outra figura de destaque é “Mulher Religiosa”. Esse foi o apelido que coloquei na cidadã. Trata-se de uma mulher de seus 40 anos, loira por opção e chata de nascença. Ela também senta lá na frente, pertinho de onde estão as mais esquisitas figuras da turma. Recebeu esse apelido porque faz questão de mostrar pra turma que sabe de cor e salteado todos os versículos da Bíblia, pois temos um professor que dá exemplos de gramática citando o Livro Sagrado. Mas a tal da Mulher Religiosa é chata, meu povo! Intervém a todo momento na fala do professor mas com uma arrogância que nos faz questionar por que é que ela é aluna, em vez de ser professora. Um saco!

PSICÓLOGA DOIDA
Sobre essa eu fico até meio constrangido de comentar, porque a pessoa em questão é gente boa, e ainda é psicóloga. Mas a coitadinha faz muita besteira. Também senta na primeira cadeira, é super atenta à aula e demonstra ser uma aluna esforçada. Mas,... sabe aquele tipo de aluninha bobinha, certinha e meiguinha e que fica repetindo tudo aquilo o que o professor fala? Eis a vítima. Cara, ela quer saber, o tempo todo, se aquilo que entendeu realmente foi aquilo que foi dito. Anota até os espirros que os professores dão e por isso, claro, se perde entre as anotações, pedindo para que tudo seja repetido.

ZÉ COLMEIA E A CALÇA RASGADA

Para não dizerem que sou machista e que sé desci o malho nas criaturas do sexo feminino, vou descrever um cidadão que, não sei por que, apelidei de Zé Colméia. Nem sei se ele de fato é parecido com o referido urso dos desenhos animados, mas foi a primeira coisa que me veio à cabeça quando vi o cidadão. O cara é um almofadinha (sabe aqueles que deveriam se chamar Astolfo?) de primeira. Chega todos os dias com a namorada a tira-colo e a gravata à mostra — sim, pra dizer que é importante. Também faz muitas perguntas, ou melhor, dá explicações. É isso mesmo. Sabe aquele tipo de aluno que se acha o fodão? Muito melhor que o professor e que está ali só pra “dar uma revisada”, pois já sabe de tudo? Este é ele. A coitadinha da Catatau, sua namorada, não abre a boca. Só o fez uma vez, perguntou uma merda e, certamente repreendida por ele, jamais tornou a fazer indagações em público. Mas o Zé Colméia protagonizou uma das cenas mais hilárias desde que comecei no cursinho. Tal qual a Miss Feiúra, ele também é dado a entrada triunfantes, chegando sempre atrasado ou saindo mais cedo que o restante da turma. Acontece que, num belo dia, sabe lá Deus o que ele andou fazendo no intervalo da aula, o cara atravessou a sala, onde todos os alunos já estavam devidamente acomodados, com um rasgo na calça que ia de norte a sul (a rima em relação ao que ficou de fora é por sua conta...). Minha gente, foi hilário. Todo mundo se cutucava mostrando pro vizinho a cena. Milhares de risinhos eram ouvidos e o cara nem aí, todo inocente, posudo, mas com o rabo de fora!

AO MOLHO
Outra cena patética, na verdade até constrangedora, foi protagonizada por um loiro-burro da nossa turma. É outro almofadinha, tão metido quanto o nosso amigo Zé Colméia. Explicava o professor de português que devemos usar a preposição junto ao artigo quando queremos expressar nossa preferência em relação a duas coisas distintas mas quando a primeira delas é precedida de artigo. Por exemplo: Prefiro O carro AO avião. Pois bem, nesse momento, o jumentinho, cheio de saber, ergue o braço dizendo ao professor que conhece um caso que põe em xeque a explicação do professor. Ou seja, segundo o brilhante estudante, há uma situação em que é possível usar a preposição junto ao artigo para a segunda coisa sem que a primeira venha precedida de artigo. Eis a pérola. “Professor, eu posso muito bem dizer: ‘prefiro macarrão AO molho’”... entenderam a imbecilidade? Eu também fiquei chocado.
Fez-se silêncio absoluto. O professor, estupefato, não escondeu sua decepção. O coitado não merecia, depois de um dia inteiro dando aula, ouvir aquele atentado. Meio sem graça, tentou explicar à anta porque aquilo estava absolutamente errado, que uma coisa não tinha nada a ver com a outra. Percebendo a merda que havia falado, o Einstein tentou remendar, dizendo: “gente, eu só estava brincando”. Claro que ninguém acreditou, mas também claro que ninguém conteve a gargalhada.
Ó, ainda tem outros artistas, mas agora tenho de sair. Depois, tento descrever as outras figuras.

2 comentários:

Anônimo disse...

Querido amigo Wagner, vc é um aluno muito observador.... será que dá tempo de prestar atenção na aula tb?...rs...
E teria vc esquecido de fazer um breve comentário sobre os alunos que adoram ficar na fila do "sopão" na hora do "recreio"?...rs...
Beijinhos,
Jane

Anônimo disse...

Olha, Jane, desta vez saio em defesa do Wagner...É impossível não prestar atenção nessas figuras!! Entre uma explicação de Ocip e OS, por exemplo, reparei que tem uma moça que leva meias para sala de aula. Ela está sempre de sandálias muito altas. Bem, quarenta minutos depois de iniciada a aula, ela retira o calçado, põe as meias e fica balançando os pés, acredita? É cada um...Num ponto concordo com vc: faltou a história do sopão (rs). Bjs, Vivi.