quarta-feira, abril 06, 2005

O estranho mundo das salas de aula — parte I

Há duas semanas voltei às salas de aula. E confesso que estava com saudades daquele ritmo meio alucinante provocado pela ansiedade de várias pessoas diferentes em busca de um mesmo objetivo. Na época da escola, isso é comum no pré-vestibular. Na fase em que estou, essa ansiedade é pela preparação para os mega-concursos que serão realizados aqui em Brasília.
Bem, mas o mais interessante desse retorno à sala de aula é ver que, apesar de várias transformações sofridas pelo mundo, muita coisa permanece inalterada. Principalmente o que se refere ao comportamento dessa criatura esquisita chamada ser humano. Um antropólogo, um sociólogo e um psicólogo presentes à sala onde tenho aulas teriam um vasto material para discussão ou pesquisa.
Vamos começar pelo comportamento dos professores. Professor de cursinho, de onde quer que seja, é, no fundo, tudo igual. Não vou levar em conta a capacidade de lecionar ou a qualidade de suas aulas, afinal, essa é uma avaliação muito subjetiva e pessoal. Por isso, vou me referir às formas de comportamento deles.

PALHAÇOS
Há aqueles professores que são engraçados. Intercalam a transmissão de conhecimentos com uma série piadinhas. Nada contra. Adepto do bom humor acima de tudo, defendo que brincar em sala de aula é uma delícia — ainda mais depois de um dia de trabalho árduo. O que é estranho nessa situação é que as piadinhas são as mesmas há anos, e são contadas sempre nos mesmos instantes das aulas, pois os caras já saem de casa com tudo em mente. Tive um professor de História no terceiro ano do antigo 2º grau que dizia que, pior do que não passar no vestibular, é ouvir as mesmas piadas no ano seguinte. Por isso, aconselho: não passou no concurso ou no vestibular? Então, mude de cursinho, mude de professor ou, na última das hipóteses, mude a forma de estudar.

RICOS, METIDOS E GOSTOSOS
Professor de cursinho geralmente também tem outra característica. Ao contrário dos seus colegas de profissão, que se matam em 300 escolas para poder comprar o leite dos filhos, eles são bem remunerados. No caso dos homens, andam em carrões importados, de preferência tipo jeep, ostentam celulares com câmeras filmadoras e usam ternos italianos (ou paraguaios disfarçados de italianos). No caso delas, a bolsa Victor Hugo é acessório inseparável, assim como a chave do carro rodando na mão e os sapatos de saltos mais altos que suas auto-estimas.
O resultado disso é uma legião de mauricinhos e patricinhas boçais que muitas vezes optam por dar aulas por razões bem específicas: mostrar aos idiotas dos alunos o quanto eles são fodões, bem sucedidos e endinheirados; fazer propaganda do seu escritório de advocacia ou do que quer que seja e, por fim, no caso dos homens, comer aquelas aluninhas mais “dadas” — presentes, hoje, até no ensino fundamental.

OS MALAS
Há, também, aqueles professores rancorosos, carrancudos, amargurados. Resumindo: mal-amados ou mal-comidas. Eles são enigmáticos. Vestem-se muito mal. Vivem com olheiras, olhos vermelhos, tosse, pigarro, cabelo ensebado e um mau humor inabalável. Você passa todo o período que dura o curso tentando decifrar por que diabos aquela criatura é tão pra baixo. Na primeira oportunidade, eles distribuem patadas nos alunos. Se a pergunta não for brilhante, praticamente a reinvenção da teoria da relatividade, eles sentam o pau e humilham o pobre do aluno com uma resposta seca, grosseira — o verdadeiro “fora”.
Queixam-se do governo, do sistema, da mulher (ou do marido), do diretor da escola, dos alunos, da humanidade e da puta que os pariu. No fundo, causam-lhe tanta comoção que você, mesmo detestando aquela aula deprimente, não faz uma única reclamação à direção da escola.

Mas os alunos também não ficam de fora. Amanhã — ou qualquer dia desses — comentarei sobre eles. Tem cada um...

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