terça-feira, abril 05, 2005

Chicão: o vizinho-cão

Passados pouco mais de trinta dias de nossa mudança de apartamento, começamos a descobrir que algumas coisas (se não a maioria delas) em nossa nova moradia não correspondem exatamente às expectativas que tínhamos. A começar pelo prédio em si. Antes de nos mudarmos, sabíamos, por exemplo, da existência de uma infiltração no teto da área que um dia foi a varanda do apê. Reparos como esse, no entanto, foram feitos antes de nos assentarmos na casa nova. A inocente infiltração até que não nos incomoda. Pelo não se não chover...
Tem mais. Como em Brasília, nesta época do ano, chove mais do que quando Noé resgatou os animaizinhos, descobrimos que não precisamos mais viajar para nos deliciarmos em cachoeiras. Há uma na garagem do prédio! Chique, não? Podemos até dizer que o nosso prédio tem cascatas no subsolo. Fica até meio poético. Mas a realidade nua e crua é que se trata de um verdadeiro rio que escorre por um lugar, digamos, não apropriado: a caixa de força!!!
Só que esses dois problemas são ínfimos se comparados a outros. E, entre esses dramas barra-pesada, estão os nossos gloriosos vizinhos. A mulher que mora de frente ao nosso apê divide o recinto com filhos adolescentes. Percebeu o problema, né? “Aborrecentes” na área. Quando a dona da casa está presente, tudo às mil maravilhas. Não temos do que nos queixar. Mas, basta a criatura dar as costas, que os capetinhas transformam o sacrossanto lar em boate. Meu amigos, é insuportável. Os jovens, provavelmente surdos, ligam o som no último volume e ouvem de tudo, até o que não presta. Nós, é claro, somos obrigados a ouvir por tabela. Mas, como geralmente isso acontece num horário em que não ficamos mais em casa, não nos incomoda. (Vou sugerir à mãe deles, que os leve ao Centro Auditivo Telex — sabe? ... o da propaganda)
Já a outra vizinha, separada de nós pela lixeira do andar, é uma barraqueira de de última “catega”. Não sei de que favela a danada veio, mas que ela é mais baixa do que barriga de cobra, ah, isso é! Para fugir da monotonia, ela e o marido desenvolveram a anti-saudável tática de brigar. Mas não é brigar assim, como nós, os civilizados, fazemos, expondo ao outro nossos argumentos, pontos de vista, teimosias e orgulhos. É briga mesmo, com direito a esculhambação, ofensas cabeludas, etc. Não sei se já saiu tapa, mas, pelo teor das discussões e pelos decibéis atingidos, porrada entre o casal não me surpreenderia. Aliás, eu ficaria surpreso se descobrisse que ele bate nela, pois eu acho que, ali, ela bate nele.
É verdade. Se a mulher tiver nos braços a mesma potência que tem no gogó, o cara, meus amigos, está fodido! A mulher é mais histérica do que arara sendo depenada. No calor da discussão, compartilhada com todo o prédio, claro, ela o manda para os lugares mais inóspitos e o manda tomar nas áreas mais inenarráveis. Um absurdo. Ela só não o chama de João Paulo II porque o papa morreu, mas, de resto, o coitado do marido é xingado. Quer dizer, coitado não, porque, se ele está casado com aquela louca, boa peça também não deve ser.
Bem, mas é do alto que vem o nosso maior tormento: Chicão e sua gangue. Preciso dar uma de José de Alencar e abusar um pouco das descrições para deixa-los a par da realidade que nos cerca. O nosso apartamento, apesar decente, é bem pequeno. Tem dois quartos, mais o quarto de empregada. Tudo apertadinho e com a mobília milimetricamente disposta por nós. Como somos só nós dois, o tamanho nos é suficiente, claro. Mas, o que você diria se eu contasse que esse mesmo espaço é compartilhado por seis pessoas? Pior: seis adultos!!? Pois é isso o que acontece em casa de Chicão.
Ah, vocês devem estar se perguntando porque o estou chamando de Chicão, né? Lá vai a explicação. Todas as noites, depois da meia noite, somos brindados com os mais irritantes, constantes e inconvenientes barulhos vindo do apartamento de cima do nosso. Constatamos que somos, digamos, pouco sortudos nesse aspecto. Afinal, num prédio de seis andares (como ordena o gabarito de Brasília) imaginamos que, escolhendo o apartamento do quinto andar, estaríamos reduzindo a probabilidade de termos problemas. Enganamo-nos redondamente.
Tudo começou numa bela e preguiça tarde de domingo, daquelas em que o vento entra forte pela janela e te convida a tirar uma soneca bem tranqüila. Tranqüila uma porra! A mundiça lá de cima começou a arrastar móveis, bater em não sei o que e a dar pancadas em algo. Já havíamos ouvido barulhos semelhantes produzidos por eles dias antes, mas não havíamos esquentado a cabeça. Mas dessa vez foi demais.
Passei a mão no interfone e pedi pro porteiro avisar aos ilustres vândalos que eles estavam incomodando. Sabe o que eles disseram? Que estavam desmontando um armário e que tentariam não fazer mais barulho. Adiantou muito pouco. O barulho continuou, mas realmente menos intenso.
No dia seguinte, no entanto, lá vêm os bárbaros de novo. Só que desta vez passava das 22h. Irritado, ou melhor, muito puto da vida, protagonizei uma daquelas cenas de sitcom, batendo com o cabo da vassoura no teto para ver se os lordes cessavam aquela zona. A princípio, funcionou, pois passaram alguns segundos em silêncio. Mas o instinto de besta-fera falou mais alto e os batuques recomeçaram. Prevendo que a minha paciência havia se esgotado, a Vivi pegou o interfone e falou diretamente com os anarquistas. O cara já atendeu com brutalidade — logo desarmada pela educação da minha senhora.
Aí, começou a desfiar um rosário de lamentações. Disse, em primeiro lugar, que seu nome é Chicão, que é dentista não sei de onde, que mora no prédio desde 1982, que já foi síndico três vezes e ... que somos muito bem-vindos e que não quer problemas conosco (imagina se não fôssemos bem-vindos ou se ele quisesse nos atormentar...!). Como todo ex-síndico recalcado, sentou o sarrafo na atual síndica, dizendo que os barulhos que ouvimos são produzidos por uma obra que ele está fazendo em seu apartamento e que deveria ter sido feita pelo condomínio. Segundo ele, o seu apartamento foi invadido por morcegos, que entraram por um vão que existe entre os apartamentos e por trás do elevador social.
Sabe lá Deus em que estado se encontra a mobília dele, mas Chicão disse que os morcegos saem por trás de seu armário ... eeeeerrrrrgg! Disse, na maior cara de pau, que só tem aquele horário pra fazer a bosta da obra e que vai fazer e ponto! Disse, sem o menor pudor, que chamou o porteiro de imbecil quando o mesmo o interfonou no dia anterior, alertando-o sobre a nossa reclamação a respeito do barulho. Pra fechar com chave de ouro, o energúmeno disse que achou muita “indelicadeza” o fato de termos batido com a vassoura no teto para chamar sua atenção, e que “nunca tinha visto isso”. Era só o que me faltava!!! O filho de uma puta sem rumo faz barulho a hora em que bem quer e ainda se acha no direito de falar em indelicadeza? ... É cada um que me aparece. No próximo post vou narrar a nossa “bat aventura”. Aguardem, crianças!

5 comentários:

Anônimo disse...

Caro Wagner,
será um serviço de grande utilidade pública a identificação do consultório onde este "distinto" elemento atua. Já pensou este que vos escreve caindo nas mãos deste boçal? "...com a boca escancarada cheia de dentes esperando a morte chegar..."

Anônimo disse...

OPS!!! Faltou a minha identificação...Juro que não foi por medo do Chicão! Será????

"Caro Wagner,
será um serviço de grande utilidade pública a identificação do consultório onde este "distinto" elemento atua. Já pensou este que vos escreve caindo nas mãos deste boçal? "...com a boca escancarada cheia de dentes esperando a morte chegar..."'

Giovanni

Anônimo disse...

Gente, estou me sentindo culpada por ter apoiado Vivi na decisão por esse apartamento, uma vez que estive lá com ela e não vi problema nenhum, pelo contrário, até elogiei!
Perdão, Wagner e Vivi, na próxima não vou me meter...
Agora, que o Chicão merece advertências do condomínio, ah merece!
Beijos.
Lalá

Wagner Vasconcelos disse...

Que é isso, Lalá?! Não precisa se sentir culpada, afinal, nem nós mesmos, os próprios moradores, percebemos os problemas antes de nos mudarmos. Quanto às advertências ao Chicão, acho, sinceramente, que não darão jeito. Conversei com a proprietária do apartamento um dia desses e ela falou que o cara sempre foi assim —há décadas. Infelizmente, não vai mudar agora. Sem bem que, uma bela surra, aplicada com chicote de couro de um nelore estrábico, talvez service como vingança...
Beijão

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Aí, Giovanni! Estreando no hospício sob inspiração do "maluco beleza"! De fato, precisamos descobrir onde atua o digníssimo dentista. Se ele fizer obturações com a mesma sutilieza com que bate nas paredes de casa, certamente seus pacientes nem precisarão esperar muito a morte chegar.
Grande abraço.

Anônimo disse...

Minha gente, o pior de tudo é que a praga do Chicão pegou: não é que um morcego entrou lá em casa... Quero mudar já! Aceito sugestões. Bjs, Viviane.