Nunca tive muita afinidade com legumes e verduras e confesso que não sei exatamente o que difere um do outro. Acho, por exemplo, que couve-flor é a cara de repolho. Coentro, agrião, salsinha, cebolinha, cheiro verde ... tudo igual. Inhame, macaxeira, mandioca, beterraba, batata-doce, chuchu, pepino ... só descubro quando vejo a plaquinha com o nome na prateleira do supermercado. Alface, manjericão, couve e todo e qualquer tipo de folha, pra mim, é a mesma coisa — se não no paladar, pelo menos na aparência. Até as frutas às vezes me causam confusão. Lembro-me de uma vez, lá em Natal, quando desci do carro para atender ao pedido da minha mãe de comprar uns maracujás. Olhei pra cara das frutas e as achei meio estranhas. Chamei o vendedor e perguntei: “estão todas assim mesmo?” “Sim, senhor”, respondeu o cara. Voltei pro carro e narrei o “absurdo” pra dona Sueli. “Mãe, os maracujás daqui não prestam. Estão todos bem murchinhos — e o vendedor escroto ainda diz que só tem assim”. Com os olhos arregalados, minha própria mãe olhou pra mim e, sem muita paciência, sentenciou: “Idiota, maracujá é assim mesmo!”, e caiu na gargalhada.
Como vocês podem perceber, as conseqüências dessa ignorância vez por outra aparecem. Hoje, domingo chuvoso aqui em Brasília, foi um exemplo. Saí de casa com a missão de trazer quatro tomates e um molho de alface, pois a Vivi acordara com os dotes culinários à flor da pele e decidira acrescentar uma saladinha à nossa feijoada congelada e ao arroz Uncle Bens de saquinho — cardápio enriquecido com hambúrguer Sadia.
Peguei meu guarda-chuva e fui ao hortifruti daqui da nossa quadra. Entrei no local, olhei ao redor e vi de imediato um dos meus deveres: os tomates. Ela os queria maduros. E dei sorte. Lá estavam eles, brilhantes, reluzentes, vermelhinhos e apetitosos. Escolhi os mais vermelhos. Achei-os um tanto molinhos, mas claro que isso era devido à “maturidade” que haviam alcançado. Selecionei, portanto, dois bem maduros e outros dois nem tanto. Vez do alface. Como sei que sou uma anta pra isso, perguntei pro cara: “Isso é alface, né?”. Resposta positiva concedida, só tive o trabalho de escolher as folhas mais preservadas, colocá-las no saquinho, pagar a conta e voltar pra casa.
Lá pelas tantas, quando a Vivi está de mangas arregaçadas preparando nosso alimento, ouço-a convocar-me para a cozinha. Pelo tom da voz, percebi que havia algo de errado. Tentei ser otimista. “Deve ser só impressão minha, tô bem quietinho aqui, só estudando...”, imaginei. Abri a porta da cozinha e deparei-me com ela meio atônita, perguntando-me: “Moreco, cadê os tomates?”. Respirei aliviado, pois era uma pergunta fácil. “Tão ali, morequinho, dentro do saquinho, em cima da pia. Não tá vendo?”, prontamente respondi. Aí foi que veio a surpresa. “Wagner, não é possível! Você fez confusão de novo? O que você trouxe não é tomate. É caqui!!!”.
E a nossa saladinha se resumiu a alface — pelo menos era alface mesmo...
domingo, março 27, 2005
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2 comentários:
Caqui???
Ô Wagner, não dá nem pra defender...
Ana Laura
Meu querido, primeiro foi açúcar mascavo com farofa... agora caqui com tomate... definitivamente vc precisa de umas "aulinhas na quitanda"...rs...
Brincadeirinha... aposto que o caqui estava ótimo como sobremesa da deliciosa feijoada "congelada" da Vivi...
Beijinhos,
Jane
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