domingo, março 27, 2005

O tomate da discórdia

Nunca tive muita afinidade com legumes e verduras e confesso que não sei exatamente o que difere um do outro. Acho, por exemplo, que couve-flor é a cara de repolho. Coentro, agrião, salsinha, cebolinha, cheiro verde ... tudo igual. Inhame, macaxeira, mandioca, beterraba, batata-doce, chuchu, pepino ... só descubro quando vejo a plaquinha com o nome na prateleira do supermercado. Alface, manjericão, couve e todo e qualquer tipo de folha, pra mim, é a mesma coisa — se não no paladar, pelo menos na aparência. Até as frutas às vezes me causam confusão. Lembro-me de uma vez, lá em Natal, quando desci do carro para atender ao pedido da minha mãe de comprar uns maracujás. Olhei pra cara das frutas e as achei meio estranhas. Chamei o vendedor e perguntei: “estão todas assim mesmo?” “Sim, senhor”, respondeu o cara. Voltei pro carro e narrei o “absurdo” pra dona Sueli. “Mãe, os maracujás daqui não prestam. Estão todos bem murchinhos — e o vendedor escroto ainda diz que só tem assim”. Com os olhos arregalados, minha própria mãe olhou pra mim e, sem muita paciência, sentenciou: “Idiota, maracujá é assim mesmo!”, e caiu na gargalhada.
Como vocês podem perceber, as conseqüências dessa ignorância vez por outra aparecem. Hoje, domingo chuvoso aqui em Brasília, foi um exemplo. Saí de casa com a missão de trazer quatro tomates e um molho de alface, pois a Vivi acordara com os dotes culinários à flor da pele e decidira acrescentar uma saladinha à nossa feijoada congelada e ao arroz Uncle Bens de saquinho — cardápio enriquecido com hambúrguer Sadia.
Peguei meu guarda-chuva e fui ao hortifruti daqui da nossa quadra. Entrei no local, olhei ao redor e vi de imediato um dos meus deveres: os tomates. Ela os queria maduros. E dei sorte. Lá estavam eles, brilhantes, reluzentes, vermelhinhos e apetitosos. Escolhi os mais vermelhos. Achei-os um tanto molinhos, mas claro que isso era devido à “maturidade” que haviam alcançado. Selecionei, portanto, dois bem maduros e outros dois nem tanto. Vez do alface. Como sei que sou uma anta pra isso, perguntei pro cara: “Isso é alface, né?”. Resposta positiva concedida, só tive o trabalho de escolher as folhas mais preservadas, colocá-las no saquinho, pagar a conta e voltar pra casa.
Lá pelas tantas, quando a Vivi está de mangas arregaçadas preparando nosso alimento, ouço-a convocar-me para a cozinha. Pelo tom da voz, percebi que havia algo de errado. Tentei ser otimista. “Deve ser só impressão minha, tô bem quietinho aqui, só estudando...”, imaginei. Abri a porta da cozinha e deparei-me com ela meio atônita, perguntando-me: “Moreco, cadê os tomates?”. Respirei aliviado, pois era uma pergunta fácil. “Tão ali, morequinho, dentro do saquinho, em cima da pia. Não tá vendo?”, prontamente respondi. Aí foi que veio a surpresa. “Wagner, não é possível! Você fez confusão de novo? O que você trouxe não é tomate. É caqui!!!”.
E a nossa saladinha se resumiu a alface — pelo menos era alface mesmo...

2 comentários:

Anônimo disse...

Caqui???
Ô Wagner, não dá nem pra defender...
Ana Laura

Anônimo disse...

Meu querido, primeiro foi açúcar mascavo com farofa... agora caqui com tomate... definitivamente vc precisa de umas "aulinhas na quitanda"...rs...
Brincadeirinha... aposto que o caqui estava ótimo como sobremesa da deliciosa feijoada "congelada" da Vivi...
Beijinhos,
Jane