terça-feira, março 22, 2005

O pente, o prego e a parede

Que relação você acha que pode existir entre um quadro e um pente?
Tempo para pensar ...
Não achou relação alguma? Não? É porque você ainda não foi ao meu apartamento. E, se foi, (como a Jane e a Simone, nossas primeiras visitas) não percebeu nada.
Chega de mistério, né? Vamos decifrar esse enigma.
O lance é o seguinte. No sábado passado, tentamos pregar em uma das paredes do nosso apê uma bela obra-de-arte, um quadro pintado por... Wagner Vasconcelos. Sim, eu mesmo, o Rembrandt do Nordeste... eh eh eh. (faz parte do acervo de uma deliciosa época em que tínhamos tempo - e paciência - para dar uma de artistas plásticos).
Bem, o problema é que a parede na qual o quadro deveria ser afixado é feita de concreto puro. Todos os pregos que eu tentava martelar nela tinham o mesmo e trágico fim: acabarem tortos. Tentei pregos pequenos, pregos médios e pregos grandes. Nada. Saímos de casa e fomos a uma loja de material de construção. Compramos pregos de aço que, segundo o vendedor, dariam conta do recado — ou pelo menos não entortariam. Vendedor mentiroso e filho da puta. O máximo que consegui, mesmo dando fortes marteladas, foi romper a barreira do reboco da parede. Mas, prego que é bom entrar, nem em sonho. Eles não entortavam, é verdade, mas perdiam completamente as suas pontas, apenas arrancando, a cada nova martelada, uma lasca a mais de reboco.
Tentei furar mais pro lado. Deu na mesma. Acho que toda a referida parede é feita de concreto puro. Puto da vida, resolvi desistir e tapar os buracos que havia feito. Peguei o cimento branco, preparei a mistura melequenta e mãos à obra. A operação tapa-buraco foi bem sucedida, apesar de o cimento branco não ter ficado tão branco quanto a parede.
Só que eu não me conformava com o fato de não ter conseguido pregar o desgraçado do quadro. Aí, o gênio aqui teve uma idéia: e se eu colar na parede um pedaço de madeira e, nesse pedaço de madeira colocar o prego? Os olhares da Vivi e da Nilza (a nossa secretária) foram de incredulidade. Acho que pensaram que eu estivesse brincando, mas logo perceberam que eu falara a verdade. “Mas, como você vai fazer isso, criatura?”, era uma das perguntas que elas me faziam, certamente já pensando em me internar. “Colo com Super Bonder”, friamente respondi.
Devo ter sido muito convincente, porque, em poucos segundos, elas se tornaram adeptas do plano. O problema estava apenas em achar a bendita madeirinha a ser pregada na parede. Novamente em poucos segundos, a solução para esse problema foi encontrada. A Vivi me chega com um pente de madeira nas mãos. Um pente de madeira???!!! Exatamente. Impiedosa, ela partiu o bicho ao meio, com as próprias mãos, e me entregou a parte referente ao cabo do dito-cujo. Na verdade, deve ter pensado, como você também deve estar pensando, que o plano não daria certo – ou que eu sequer tentaria pô-lo em prática.
Mas, eu sou o cara! Dei uma de McGyver, espalhei a cola pela madeirinha e a juntei à parede. Pois não é que deu certo? Esperei um pouquinho pra colar secar e pendurei o quadro diretamente nela. Nem precisei do prego. Ficou lindo! Ninguém percebe. A partir de agora, claro, o quadro (ou melhor, a forma como ele foi pregado) deverá ser a grande atração da nossa casa. A única preocupação, porém, será na hora de desfazer a mutreta quando devolvermos o apartamento à proprietária. Já vou logo comprar uma latinha de tinta. Mas, quer saber? Não vou me preocupar com isso agora. Vou apenas apreciar os belos trabalhos realizados por mim e ostentados naquela teimosa parede. Jane e Simone, obrigado por não terem percebido. A propósito: os embalos do sábado à noite foram muito bons. Obrigado também pela companhia.

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