terça-feira, janeiro 11, 2005

A violência nossa de cada dia (parte 2)

Ontem, na primeira etapa do nosso “fórum” sobre violência, dei minha opinião a favor do desarmamento. Hoje, há outro elemento que jogarei na roda dos fatores que considero ter influência direta e indireta nos índices de violência: a bebida alcoólica.
Vamos deixar de lado de lado a hipocrisia? Precisamos restringir o consumo e o acesso às bebidas alcoólicas. Ponto. Quando falo em restringir não me refiro apenas à proibição da venda desse produto aos menores de 18 anos. Refiro-me, isto sim, a um controle geral, para todos.
Estou longe de ser puritano, conservador, careta ou quadrado, e nem defendo ou simpatizo com qualquer tipo de lei seca. Também preciso dizer que sou fã apaixonado e incondicional de uma cervejinha gelada, de um chope com os amigos e de um belo vinho branco. Isso faz bem pra alma e, portanto, para a sociedade.
Mas a nossa permissividade colabora, e muito, com os gritantes índices de violência que nos rodeiam. Não estou dizendo que essa é a causa única e imediata da violência, como alguns nervosinhos já devem estar querendo interpretar. O que digo, e isso é verdade, é que somos, sim, irresponsáveis no consumo desses artigos e que a relação desse uso desmedido com a violência é incontestável. Aí estão, mesmo para quem não quer enxergar, os casos de mortes no trânsito; as brigas de bêbados que acabam em desgraça; os estupros, assassinatos e abusos de toda sorte praticados por gente etilicamente alterada.
Quando morei no Canadá, revi todos os meus conceitos a respeito da relação do povo com a bebida. E percebi que, ao contrário do que muitos podem pensar, o seu controle não significa cerceamento de liberdade, privação de prazer da população ou outra baboseira que se diga para atacar tal controle. Pelo contrário. A maioria das pessoas com que eu conversava lá apoiava a medida.
Querem saber como a coisa funciona por lá? Primeiro, o preço da bebida é algo absurdo, que o faz pensar duas vezes antes de levar à boca aquela latinha gelada de cerveja. Em 2001, custava nada menos que cinco dólares canadenses, o que, na época, dava uns R$ 10,00 por latinha!!! Outra coisa: bebidas só são vendidas em lojas especializadas. Nada de supermercados, farmácias, postos de gasolina, etc, como acontece por aqui.
Tem mais. Se você compra uma caixa de bebidas e a coloca dentro do carro, deve alojá-la no banco de trás da sua viatura, se não quiser ver o sol nascer quadrado. Além disso, nenhuma (mas nenhuma mesmo) das garrafas pode estar aberta.
Beber, só dentro de casa ou em estabelecimentos como restaurante, boates, bares e similares. Quem for pego bebendo na rua vai em cana! Quem andar embriagado pelas ruas cura a ressaca na cadeia, ainda que não cause tumultos. Nas boates, restaurantes, etc, as bebidas só podem ser vendidas até as 2h da madrugada. Passou disso, o estabelecimento é multado (e o dono pode ser preso — e lá vai mesmo!!!) se persistir na venda. Quem não engoliu a cerveja que ainda está na latinha ou o uísque que balança no copo que se apresse, pois após esse horário os funcionários da boate estão autorizados a tomar a bebida da pessoa.
E olha que essa é apenas uma das medidas que os canadenses têm para controlar, entre outras coisas, os índices de violência. E você pensa que eles estão tranqüilos em relação ao assunto? Nada disso. Mesmo os baixos índices de criminalidade em Toronto, por exemplo, são razão para muita discussão séria. Lembro que, há uns dois anos, li pela internet num jornal de lá que as autoridades canadenses estavam se descabelando porque os casos de homicídios em Toronto chegaram ao “elevado” índice de 52 assassinatos por ano. Na mesma época, quando eu estava em Natal (que está longe de ser uma das cidades mais violentas do Brasil), sabe quantos assassinatos já haviam sido registrados na capital do Rio Grande do Norte? 251. Quer por extenso? Duzentos e cinqüenta e um — para uma cidade muito menor que Toronto.
Volto a dizer: a bebida não é a causadora de toda a violência da qual estamos sendo vítimas. Mas a ausência de rigor em relação ao assunto também tem sua parcela de contribuição. Mas, sinceramente, acho que no Brasil esse controle que defendo jamais será colocado em prática — pra alegria dos que discordam de mim. E essa impossibilidade se dá por pelo menos duas razões: primeiro, porque tem de ter muito peito para enfrentar a indústria de bebidas que atua aqui, que certamente chiaria se algo semelhante passasse a vigorar. Sabemos que os governos (todos eles) são covardes para enfrentar mega-corporações ou setores de grande destaque da economia nacional. A outra razão, essa ainda mais complicada, é que se acredita piamente que o hábito de beber é cultural no Brasil. Se isso é verdade, temos de adaptar essa tradição a um senso coletivo de responsabilidade.
Não basta apenas regulamentar a propaganda de bebida. Há até projetos no Congresso sobre isso — o que é válido. Aqui, por exemplo, você pode ler um artigo sobre a defesa do senador Maguito Vilela (PMDB/GO) a um maior controle na publicidade do produto.
Mas, não vamos esquecer: estamos falando de violência, um mal que, para ser combatido, precisa ser atacado simultaneamente em várias frentes. E o controle da bebida alcoólica, acredito eu, é uma dessas frentes de batalha.
Pensei em encerrar por hoje os textos sobre o tema violência. Mas já penso em postar mais um amanhã, sobre outra vertente desse mal. Não se acanhem e até me xinguem se acharem necessário, ok?

2 comentários:

Anônimo disse...

Muito bem, Wagner!
Que tal abordar o tema de legalização e comercialização de drogas? Acho um tem mais delicado ainda e envolto em mantos de hipocrisia.
O brasileiro tem sido, nesse aspecto, um egoísta hipócrita. Vamos debater?
Ana Laura

Wagner Vasconcelos disse...

Lala, vc leu meus pensamentos. Era exatamente esse o tema de amanhã. Beijão e até lá