segunda-feira, janeiro 10, 2005

A violência nossa de cada dia (parte 1)

Uma pausa na perfumaria. Preciso acrescentar doses de polêmica a este espaço. Nada melhor, para isso, que falar sobre violência. Na verdade, não pretendo listar, relatar ou lamentar os fatos que vêm ocorrendo. Hoje e amanhã escreverei sobre dois aspectos específicos da luta contra esse espectro.
Desculpem-me os que não concordarem comigo, mas não aceito a crítica que se faz ao Estatuto do Desarmamento — que, em outras palavras, pretende retirar das mãos da população as armas de fogo. Os críticos dizem que essa iniciativa apenas servirá para desarmar as pessoas de bem, e não os bandidos. (Parece coisa do Diogo Mainardi). Minha gente, não é por aí. Essa é uma avaliação imediatista e (desculpem mais uma vez os seus defensores), infantil a respeito do nível de violência a que chegamos. Não se trata aqui de querer defender o governo ou quem quer que seja. Mas precisamos lançar sobre o assunto um olhar mais crítico e complexo sobre esse mal.
Em primeiro lugar, é fundamental entender que armas de fogo, mesmo que nas mãos de pessoas de bem, não oferecem proteção e segurança coisíssima nenhuma. Considero isso uma perigosa ilusão. Quantas histórias já ouvimos de pessoas que, tendo uma arma em casa, atiraram e mataram um inocente porque, na hora do medo, o confundiram com um bandido? Quantas discussões sem importância não acabam em tragédia porque uma das pessoas se sente valente e justiceira por ter uma arma de fogo ao seu alcance? Quantas pessoas já não foram vítimas de balas perdidas disparadas por armas que estavam nas mãos de “pessoas de bem”? Quantas crianças já não perderam a vida porque foram brincar de polícia-e-ladrão com a arma que o papai guarda em casa?
Sabe, pessoal, acho que temos de rever uma série de pontos de vista em relação à nossa noção de segurança. Claro que só esse desarmamento está longe de representar o extermínio da violência de uma vez por todas ou pelo menos a sua significativa redução. Mas é inegável que representa algo que é fundamental: um adeus à inércia. Afinal, o que foi feito de concreto no combate à violência nos últimos tempos que não tenha sido meramente paliativo? Absolutamente nada. Assistimos aos casos que são anunciados nos telejornais, nos indignamos por um certo tempo, colocamos grades em nossas janelas, alarmes em nossos carros e sistemas de circuito interno em nossos condomínios. Em seguida, nos acomodamos com a situação e esperamos por outro caso assombroso. Só isso.
Mas não basta desarmar a população. Nem preciso dizer que reeducar o povo, distribuir de forma justa a renda do país, criar oportunidades de empregos e ascensão social são medidas urgentes a serem tomadas por quem quer que nos governe. E são medidas que deveriam ter sido implementadas ontem!
Mas há outras coisas que contribuem para a violência que galopa a passos largos. Preparem-se, pois amanhã vem mais uma polêmica — talvez maior do que a minha defesa ao desarmamento. Quem (sobre)viver lerá.

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