sábado, novembro 20, 2004

Por que colidem os brasilienses?

Quando cheguei à Capital Federal, achei que, em relação ao trânsito, eu demoraria anos para me acostumar com o cartesianismo da cidade, as suas tesourinhas e a inexistência de nomenclatura tradicional para ruas e avenidas. (Aliás, ausência DE ruas e avenidas, pois aqui só tem eixos!) Mas, que nada. Deparo-me com um enigma que deverá consumir um tempo ainda maior para ser decifrado: as colisões entre veículos.
Sinceramente, não sei o que acontece. Não pense o leitor que estou exagerando. Relato a mais fiel e incontestável realidade. Todos os dias, quando vou ou volto do trabalho vejo carros batidos, abalroados, engavetados, ou como você preferir chamar. E não importa a via pela qual eu esteja trafegando: Eixão, eixinho, W3, L2 etc — as colisões estão sempre lá, fiéis e invariáveis como o resultado da soma de 2 + 2. Não são acidentes graves, ainda bem. Mas são suficientes para instalar o caos.
Quem ainda não veio a Brasília ou não se surpreende com esses pequenos e constantes acidentes em suas cidades certamente pode não entender a razão do meu espanto. Por isso, é preciso avisar que, aqui, as vias são largas, a velocidade é ultra-controlada (o Eixão é o único lugar onde você pode chegar a 80km/h!) e a sinalização é eficiente.
E olha que o motorista daqui não é barbeiro como o de Natal, estressado como o de São Paulo ou esquizofrênico como o do Rio de Janeiro. O motorista brasiliense, em geral, é educado. Não buzina, não dá trancadas, dá a vez para outro entrar a sua frente, respeita faixas de pedestre e a preferencial de quem vem a sua esquerda numa rotatória. Então, por que, santo Deus, esse povo se envolve em tantas batidas?
Na quinta-feira passada, tive irritantes exemplos dessas situações. Voltava do trabalho, lá na Asa Norte, pela W3, em direção à Asa Sul. Pensei em seguir direto por ela. Afinal, a Vivi está viajando e eu não precisava ir busca-la lá na Esplanada dos Ministérios. Nem precisaria dar voltas para pegar o Eixão. Mas na altura das quadras cuja numeração termina em 4 ou 5, um enorme engarrafamento estava formado. Passei uns 20 minutos para sair daquele gargalo. A razão da confusão? Uma batida entre um Kadett e um Vectra, nas imediações do Brasília Shopping. Nada de grave, mas, em horário de pico (cerca de 18h), foi o suficiente para estragar os planos de quem queria chegar cedo em casa. Olhei mais pra frente e vi que, mesmo depois desse trecho, havia mais congestionamento adiante. Decidi mudar os planos e seguir pelo Eixão.
Ao pegá-lo, pensei ter me dado bem. Mas, como pão de pobre sempre cai com a manteiga pra baixo, me vi preso em outro congestionamento. “Não é possível!”, suspirei. O Eixão, para os que não o conhecem, é uma via expressa que, em poucas palavras, corta a cidade de Norte a Sul. Acho que deve ser a via preferida dos motoristas, pois, além de não ter sinais, é onde se pode chegar aos 80km/h. Quer saber a causa do sufoco? Adivinhou: outra batida. Dessa vez não lembro os carros envolvidos. Depois de outros intermináveis e irritantes minutos parado, consegui chegar à tesourinha que dá acesso à minha quadra. Pois não é que tinha outro engarrafamento? Juro por eu mortinho de cabeça-pra-baixo, roxo e pelado que não é mentira! Agora, um cara havia atropelado um moto-boy (você também os odeia?) que saíra sem olhar de uma das alças da tesourinha. Resultado: uma fila de carros comparável è Muralha da China.
É isso. Não sei se os motoristas daqui se distraem contemplando as belezas dos traçados de Lúcio Costa ou com os monumentos do mestre Niemeyer. Mas a verdade é que alguma coisa estranha acontece com eles. Enquanto não descubro o que é, mantenho em dia o seguro total do nosso carro.

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