Não havia
mais espaço para carinho. Não depois de 47 anos de casamento, pensou ela,
acreditando profundamente que a criação dos 4 filhos, as muitas casas que
montaram, e todos os problemas que superaram corroeram definitivamente qualquer
chance de trocas de afeto. Nem mesmo agora, momento colossal de dor, quando a
morte resolve carregar alguém tão próximo a ela.
Ali, no salão em que o
velório se desenrolava, a presença dos dois, lado a lado, era muito mais o
cumprimento de uma convenção (algo meramente protocolar) do que o
compartilhamento de uma dor que atinge de forma dilacerante a um mais do que a
outro. Mas aí, para sua surpresa, ele discretamente segurou sua mão, mesmo sem
que ninguém notasse.
E, sem se preocupar com o que poderiam pensar, levou-a a
sua boca e a beijou, demorada e delicadamente. Ainda que sem olha-la nos olhos,
aproximou-se de seu rosto e disse, ao seu ouvido: “Eu estou aqui. Eu estou com
você. E para sempre”. Foi então que ela percebeu que poderia até não haver mais
espaço para o carinho. Mas sempre haveria espaço para o verdadeiro amor.
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