segunda-feira, maio 30, 2005

Funny Saturday night

De fato, o improviso é mestre em diversão. Vocês já notaram que os melhores e mais divertidos momentos são aqueles que não são programados com muita antecedência, muito menos nos mínimos detalhes? Sempre tive essa suspeita e a confirmei no sábado passado.
Estávamos num dos shoppings daqui da cidade, na tarde de sábado, quando passamos no cabeleireiro da Vivi. Conversa vai, conversa vem, ela decide fazer alguns ajustes no visual e convida a amiga Jane para acompanhá-la na empreitada. As duas deliciavam-se nas cadeiras do salão enquanto eu, sozinho com meu jornal, as esperava. O negócio prometia ser demorado, pois rolou de tudo: de sobrancelha à mudança de cortes e tonalidades das madeixas das cidadãs. Uma luz divina abençoou a Vivi e a fez me dispensar de esperá-la, pois a Jane a levaria de volta pra casa. Que bom. Eu estava livre. Eram 17h.
Comprei minha casquinha de chocolate do McDonald’s (única coisa que eles têm de bom), peguei o carro, fui pra casa, troquei de roupa e decidi dar uma caminhada no parque da minha quadra. Voltei, tomei banho, estudei, vi TV, cochilei no sofá. Eram 20h. Nada de a Vivi voltar. Teria sido abduzida? Seqüestrada? Sugada pelo secador do salão? Como ela esqueceu o celular em casa, liguei pro celular da Jane. Uma, duas, três vezes. Nada de alguém atender. Pudera. Duas mulheres, em pleno sábado de feriadão, num badalado salão de beleza, entre revistas Caras, fofocas, barulhos de secadores e expectativas sobre os novos visuais... ouvir o celular que toca dentro da bolsa é pedir demais, né?
Quando consegui falar com ela, dei o nosso endereço, pois, pela demora, achei que estivesse perdida, sem lembrar onde morava. Ela disse que chegaria “daqui a pouquinho”. Huuummm. Isso rendeu mais de uma hora até um outro telefonema. Mas aí, foi a minha surpresa — e o meu pânico. “Moreco, dá uma arrumada nas coisas aí porque as meninas estão indo aí pra casa para tomarmos vinho e jogarmos Imagem e Ação, tá bem?”.
Tá bem coisissima nenhuma. Devia ser umas 21h30. Eu estava de pijama, espojadão no sofá, com as pernas pra cima, sem preocupação nenhuma, quando recebo esse comunicado. Corri feito um desesperado. “Arrumar as coisas” significava juntar os livros, cadernos e apostilas que deixei espalhados pela sala; lavar a louça do almoço que jazia na pia; limpar o vidro da mesa; guardar as roupas que estavam espalhadas em cima da cama e na cadeira do escritório (né, Vivi?). Além disso, tirar, dobrar e guardar as roupas que estavam no varal e sumir com as cuecas e calcinhas penduradas no banheiro ou no varal (não se escandalize, pois na sua casa é do mesmo jeito). Feito tudo isso, ainda precisava tomar banho e fazer a barba. Deus sabe como é que consegui.
Assim que fiquei pronto, chegaram as quatro amazonas do Apocalipse: Vivi, Jane, Simone e Lalá. Arrumadas, perfumadas, loiras, animadas e com quatro garrafas de vinho e alguns salgadinhos. Neste momento, me dei conta: o que diabos estou fazendo aqui? Só eu, de macho, no meio desse mulheril todo? Isso não vai dar certo. Imaginem: quatro mulheres juntas, num sábado à noite, embaladas pelo vinho e ainda com a novidade da neo-loirice da Vivi e da Jane... é demais, né?
Certo fez o Ricardo, marido da Lalá. Deve ter previsto o sufoco e decidiu ficar em casa. Eu não tive escapatória, pois já estava em casa. Quando soube que ele não iria, ainda pensei em ligar e convencê-lo do contrário. Mas me coloquei em seu lugar e vi que o melhor seria enfrentar a situação. No começo, fiquei meio tenso, afinal, além de ter de notar e opinar detalhadamente sobre o novo visual das madames, ainda tremi de medo ao pensar que a conversa descambaria pra sacanagem. Sim, mulher fala sacanagem, descobri. Mas acho que, na minha presença, elas se contiveram. Só fiquei um pouco assustado quando notei que a conversa, em certo momento, girou em torno, é claro, de homem. De repente, uma delas solta que fulano-não-sei-das-quantas é “gostoso”.
Aí já era demais. Como o tema não era do meu agrado, pensei em me retirar educadamente, deixando-as à vontade para tecer comentários dessa natureza (menos a Vivi, é claro). Mas, no nosso imenso “apertamento”, isso não seria possível. O jeito foi convencer as ditas-cujas a mudar o foco dos debates para temas, digamos, “unissexes”. Fui atendido. Conversou-se de tudo — menos das impressões delas sobre nós.
Depois, como está se tornando praxe, fomos jogar Imagem em Ação. Aos que não conhecem, é aquele jogo no qual é preciso fazer mímicas sobre as mais variadas coisas para os seus parceiros acertarem. Aí, foi comédia pura. Depois de algumas taças de vinho, a inibição vai embora e as mímicas mais malucas do mundo aparecem. Mas nada nesse mundo se compara à mímica da Lalá. Foi a mímica campeã. Ninguém conseguiu acertar o que ela tentava mostrar. Não foi pra menos. A coitada até se deitou no chão, simulou uma cirurgia, fez caras e bocas. Mas todos, nervosos e curiosos, ficamos cada vez mais confusos. Em um dos momentos, ela gesticulou de uma forma que deduzi ser uma porta. E era. Mas essa não era a palavra certa. Usou “porta” para tentar chegar ao que queria. Chutamos de tudo. Eu não conseguia entender que diabos de relação existia entre uma porta e a cirurgia que ela simulara (deitada no chão). Seria a porta do hospital? Nada disso. Vimos que era pra dividir a palavra, usando a sílaba “por” (pelo menos foi isso que ela deixou transparecer). Mas também não era. “Bisturi”, “parto cesariana”, “morte”, “operação”, “cadáver”, “múmia”, “sonâmbulo” etc foram alguns dos palpites. Ninguém chegou perto. Decepcionada, ao fim do tempo, ela revelou o que era: tumor. “aaaaahhhhhhhhh”. “Mas, vem cá, Lalá: o que é que porta tem a ver com isso?”, perguntei. “Na verdade, era a sílaba ‘ta’ que eu queria dizer”. A idéia, segundo ela, era que desenvolvêssemos a sílaba “ta” assim: “ta”... “te”... “ti”... “to”... “tu” – de tumor! Claro que ninguém agüentou, e por pouco não batemos a caçuleta de tanto rir.
Ah, mas a Jane também aprontou, mesmo sem ter bebido muito. Como na maioria das vezes jogávamos o dado no chão, algum espírito de luz tinha de se baixar para pegá-lo de volta. Numa dessas vezes, eu o fiz. A Jane, tadinha, que estava sentada ao meu lado, não percebeu (acho) que eu o tinha pego e curvou-se até o solo para pegar o objeto do desejo dela. Como deu viagem perdida, não encontrando nada — e tentando disfarçar a frustração — subiu imediatamente, dando uma balançada meio sem graça com os braços. Não prestou. Eu notei e todo mundo notou. Mais gargalhadas.
A Simone, estreante no jogo, foi uma comédia. Potiguar como eu, usava expressões lá da nossa terrinha para demonstrar seu espanto quando acertávamos algo bem louco ou quando tinha de representar algo mais louco ainda. Isso sem contar que ela nos enganou metade da noite dizendo que havia feito os salgadinhos (muito bons, por sinal) que havia levado. Descobrimos, com o passar do tempo, que o que ela fez foi a encomenda deles. Os anfitriões (eu e a Vivi) também pagamos vários micos, mas nada tão criativo quanto o “tumor”. Essas foram apenas algumas das muitas palhaçadas da nossa noite de sábado. Muito mais animada do que poderíamos imaginar. Espero repetir e que, da próxima vez, o Ricardo e o Giovanni dêem o ar da graça.

Um comentário:

Anônimo disse...

Wagner,
vc nao tem ideia da inveja (boa) que senti lendo o seu blog. Caralho, sinto muita falta disso aqui. Ai falta dinheiro, mas o riso eh garantido, aqui nao falta dinheiro mas os risos sao escassos.
Bom, lembrei de uma vez que tive que fazer a palavra ENCURRALADO. Imagine ai, conhecendo como vc me conhece, as peripersias que tive que fazer. Depois de ver a ampulheta (ehhhh valeu sitio do pica pau amarelo por me ensinar o que eh ampulheta)quase no fim, nao pensei duas vezes e danei o meu cuzinho no chao e fiquei simulando que estava ralando, e depois de tanto esforco,um tapado ainda diz: eh a musica vai descendo na boquinha da garrafa!! Ai que odio. Mas meu meu esforco nao foi em vao. Alguem gritou: ENCURRALADO! e pra variar eu ganhei! rsrsrsrsrs
Neildo