sábado, junho 24, 2006

Sotaque

Passei a semana passada em Recife, ou melhor, no Recife, ou melhor ainda, no "Ricifi", como pronunciam meus conterrâneos. Sim, meus conterrâneos. Àqueles que ainda não sabem, informo que nasci na belíssima capital pernambucana, mas acabei sendo criado na mais bela ainda Natal. Bem, o retorno provisório e fulminante às origens foi bem interessante. Não revi familiares ou amigos. Até porque os primeiros praticamente não os tenho lá, e os segundos também não habitam a Veneza brasileira.
O interessante foi mesmo pisar de novo em solo nordestino, o que não faço há praticamente dois anos. Foi uma "matação" de saudade só. Os cheiros, o calor, a comida, o sotaque. O sotaque, aliás, foi o que me causou as maiores sensações.
Apesar de conservá-lo presente em minha fala, reconheço que já o perdi em grande parte. O que lamento, afinal, o sotaque talvez seja, após as nossas combinações genéticas, o que mais nos caracteriza, identifica ou diferencia. Mais que as modas e os costumes. Estes podemos incorporar ou abandonar, sem traumas ou dificuldades. O sotaque não.
Os primeiros fonemas que saem de nossas bocas, quando bebês, são formulados já tendo por base o nosso sotaque. O "mamãe" que um bebê amazonense pronuncia jamais será igual ao que o faz um bebê gaúcho, ainda que alguma semelhança os confunda.
O sotaque é a raiz da raiz de nossa fala. Carrega consigo mais do que a uma maneira de se expressar. É resultado das fantásticas formas de miscigenação que nos constituem. Mantém presentes os nossos ancestrais e aqueles que os influenciaram e com quem conviveram.
É fascinante buscar saber por que um sertanejo, lá dos confins do Nordeste, fala "arrente" (a gente), "arriba" (em cima), "muitcho" (muito) e diversas outras palavras que mantêm viva a presença de povos de outros continentes (no caso, os espanhóis) em nossas terras.
Sou, sempre fui e serei um apaixonado por sotaques.

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